No Mato Grosso do Sul, indígenas estão vivendo sob a mira de pistoleiros

06.09.10 – BRASIL
Natasha Pitts *

Adital – O sofrimento dos indígenas do estado do Mato Grosso do Sul (MS) parece não ter fim. Após retornarem para suas terras tradicionais, no dia 17 de agosto, os Guarani Kaiowá da comunidade Y’poí, no município de Paranhos, estão vivendo cercados por pistoleiros, que impedem a entrada ou saída de qualquer pessoa da comunidade. Os indígenas estão sem acesso a serviços básicos como saúde e educação.Após o Acampamento Terra Livre Nacional, instância máxima de decisão do Movimento Indígena Brasileiro, que neste ano aconteceu no MS, os Guarani, cansados de esperar por decisões que nunca são emitidas, decidiram retornar para sua terra tradicional e aguardar lá as deliberações sobre o processo demarcatório. Contudo, a ação trouxe ainda mais sofrimento para os indígenas, que agora vivem sob a mira de pistoleiros, contratados por fazendeiros da região.

“Na verdade, desde que os indígenas foram retirados de suas terras para que fosse iniciado o processo de demarcação, os fazendeiros mantêm as terras guardadas por seguranças. Logo após a entrada dos Guarani Kaiowá, estes seguranças fecharam as estradas de acesso à comunidade”, esclareceu Egon Heck, coordenador do Regional Mato Grosso do Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Segundo informe do Cimi publicado na última quinta-feira (2), os pistoleiros estão morando em pequenos acampamentos ao redor da comunidade e assim ‘ilhando’ os Guarani Kaiowá. Para amedrontar ainda mais, andam armados e fazem constantes ameaças à população indígena, além de impedirem a saída ou entrada na região. Deste modo, não é possível ter acesso a serviços básicos como saúde e educação. A água e a comida também estão escasseando e não há como procurar.

Alegando insegurança, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) não conseguiu ultrapassar a barreira e prestar atendimento aos indígenas, que estão vendo suas crianças adoecer sem que nada seja feito. Para Egon, o órgão está se deixando intimidar e falhando por não estar buscando apoio à comunidade.De acordo com o coordenador, apenas a Fundação Nacional do Índio (Funai) conseguiu romper o cerco e chegar até a comunidade, no entanto, o fato só aconteceu uma vez, pois o órgão também passou a alegar insegurança.

“O que está acontecendo é uma violação muito séria e grave aos direitos garantidos internacionalmente aos povos indígenas. É um absurdo chegar ao ponto de impedir a comunidade de ter acesso ao serviço de saúde. A fome também está chegando a esta comunidade, pois não há reserva de alimentos, já que os Guarani tiveram que levar o mínimo de coisas possível durante o retorno. Nós pedimos, pelo menos, condições de sobrevivência para os indígenas até que as instâncias responsáveis resolvam a questão da identificação”, afirmou Egon.

Mesmo sendo evidente a gravidade da situação, nada foi feito. Diversas denúncias já foram remetidas ao Ministério Público Federal de Ponta Porã, à Funai e demais órgãos encarregados de segurança no Mato Grosso do Sul e ainda assim a situação continua sem resolução.

“Deixamos aqui um apelo humanitário pela vida tão abalada da maioria dos Guarani Kaiowá. Acreditamos que esta situação de expulsão, sofrimento e atentado à vida só será revertida se o governo federal se comprometer, ainda neste mandato, a finalizar e divulgar o relatório de identificação, que faz parte do processo de demarcação”, finalizou Egon.

Caso Rolindo

Outra situação não resolvida e que até hoje causa sofrimento aos Guarani é a falta de notícias sobre Rolindo Vera. O professor, que se encontra desaparecimento há cerca de 300 dias, foi sequestrado junto com Genilvado Vera, seu primo, durante a retomada das suas terras tradicionais. Poucos dias após o sumiço, o corpo de Genivaldo foi encontrado dentro do córrego Y’poí. No entanto, sobre o paradeiro de Rolindo não se tem notícias até o momento. A família continua a esperar aflita por notícias, pois deseja, ao menos, receber o corpo, caso o professor esteja morto.

* Jornalista da Adital

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One thought on “No Mato Grosso do Sul, indígenas estão vivendo sob a mira de pistoleiros

  1. Heitor Karai Awá-Ruvitxá

    Na verdade essa violência toda contra o meu povo Guarani Kaiowá prolonga-se desde 1864 quando se iniciou a Guerra do Paraguai. Até então eramos uma Grande Etnia, a maior do Brasil.
    O Duque de Caxias percebendo isso colocou nas frentes de combate os povos indígenas Guarani Kaiowá e Terena. Solano Lopez, o ditador do Paraguai percebendo isso também colocou o seu maior povo nas frentes de combate, eram os Paî Tavy Terã de mesma etnia que os Guarani Kaiowá. Jamais os Guarani Kaiowá matariam os seus irmãos do outro lado. Nós, originariamente, não temos fronteira. As terras de Abya Yala (América do Sul) são e foram sempre dos povos nativos das Américas.
    Assim sendo, Duque de Caxias como os Comandantes de Solano Lopez nos mataram por deserção. Uma pequena minoria, àqueles que conseguiram fugir das frentes de combate não encontraram mais suas casas e seus Tekohá (Aldeia) O exercito removeu todas a viúvas, idosos e crianças para Dourados. Nas terras Guarani Kaiowá do Sul do então Estado Grande de Mato Grosso estavam sendo empossados os fazendeiros vindos do Paraná e São Paulo convidados pelo imperador Dom Pedro II. Daí em diante meu povo foi voltando para o Sul para viver nas Florestas do Mato Grosso. Naquela época ainda havia muitas florestas, mesmo depois de os fazendeiros pioneiros cortarem árvores para fazer pasto para gado. Imaginem, a terra roxa servir de pasto. Um tremendo desperdício. E assim vivíamos tranquilos. Nossas áreas de perambulação havíam sido bem diminuídas, mas o meu povo se adaptou. Nos anos 80 começou o massacre novamente, cada vez mais os fazendeiros ladrões agiam. Na verdade queriam as terras indígenas para fazer dinheiro com a soja. E hoje além da soja é a cana de etanol. Contratarm pitoleiros, a maioria do Nordeste e montaram uma Empresa de Segurança para acobertá-los. Nesse último assassinato os fazendeiros contrataram a PM pois sendo o Governador do Estado também fazendeiro, ele apoia e permite que a sua Polícia Militar seja usada como fonte de pistoleiros oficiais.
    É isso Cláudo Carvalhaes.
    Obrigado pela oportunidade em seu site!

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