O cenário histórico e cultural no qual as igrejas estão inseridas está em constante transformação, afirmou o reverendo David Thompson, da Igreja Reformada Unida do Reino Unido. “A pergunta é: como iremos responder a isso?” – indagou na sessão plenária, dia 17, da reunião do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), reunido em Genebra.
A reportagem é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 20-02-2011.
As discussões versaram sobre o “cenário eclesial e ecumênico em transformação” e as relações e cooperações inter-religiosas na busca pela paz. A pastora Jennifer Leath, da Igreja Episcopal Metodista dos Estados Unidos, perguntou que tipo de economia aproxima o CMI nesta estrutura de ecumenismo. Ela se referia à dupla raiz etimológica grega “econômica” e “ecumênica” oikos, que significa “casa” ou “lar”.
O CMI aceitará a mesma influência e dominação do Hemisfério Norte, que forja economias globais, ou irá insistir no respeito aos marginalizados? Aceitar o primeiro modelo é “inaceitável”, argumentou a pastora.
Falando em nome das mulheres, dos jovens e dos grupos recentemente incorporados à vida do movimento ecumênico tradicional, Leith insistiu: “Não seremos apenas exemplos carismáticos deste Conselho” à custa de uma aparente comunhão plena. “A oikos de Deus emergirá”, assinalou.
O co-moderador do Grupo de Trabalho Conjunto entre o CMI e a Igreja Católica, irmãoGosbert Byamungu, entende que a cristandade conseguirá lidar com a situação que tem diante de si. Ao longo dos últimos 50 anos, disse, os católicos romanos e o CMIpassaram de uma relação na qual a “desconfiança e a animosidade deram lugar à confiança e à amizade.” Agora, “nosso desafio é transformar acordos em torno de temas doutrinais e em testemunho comum e serviço.”
O arcebisbo Nareg Alemezian, da Igreja Ortodoxa Apostólica Armênia, do Líbano, falou de sua experiência no Oriente Médio e em outras regiões. Ele clamou por unidade visível da Igreja no ministério junto aos imigrantes, no trabalho missionário e nas relações inter-religiosas diante dos vários desafios da globalização. Acima de tudo, pediu que os membros das igrejas “vivam a comunhão do CMI além da esfera puramente institucional” e participem dos “momentos de oração tendo Cristo como centro.”
Palestrantes vindos do Sri Lanka, Indonésia e Alemanha partilharam visões acerca dos efeitos do diálogo e cooperação inter-religiosa em seus ministérios. O reverendoEbenezer Joseph, metodista do Sri Lanka, apontou os benefícios que descobriu trabalhando com pessoas de outras expressões de fé.
Encontros inter-religiosos com budistas, hindus e muçulmanos acontecem em todos os níveis da igreja e da sociedade no Sri Lanka, afirmou Josef. “O que existe é o diálogo da vida, com muitas expressões de fé em público”, explicou. Não há motivo ulterior nestes encontros, mas “engajamento religioso positivo”.
Josef chama essa experiência de “engajamento coletivo” no qual “apenas tentamos imaginar o que podemos fazer juntos”, especialmente em torno de questões que surgiram ao longo dos 30 anos de guerra civil que recentemente chegaram ao fim.
Há também diálogos inter-religiosos formais no Sri Lanka, mas estes envolvem acadêmicos e clérigos e “não têm impacto nas vidas das pessoas”, acrescentou Josef.
A pastora Margaretha Hendriks-Ririmasse, uma das vice-moderadoras do Comitê Central, refletiu acerca das relações inter-religiosas na Indonésia, onde trabalha como ministra da Igreja Presbiteriana Protestante em Moluccas, atuando lado a lado com outras comunidades de fé.
“Geralmente não enfrentamos grandes conflitos nestas relações, ainda que alguns preconceitos estejam presentes porque cada um se considera melhor que o outro”, afirmou.
Mas as relações inter-religiosas pioraram na Indonésia devido à “guerra ao terror”, promovida pelos Estados Unidos, informou. “Os cristãos passaram a ser vistos como agentes dos EUA e do Ocidente. Com isso, grupos de radicais surgiram entre os muçulmanos, fazendo com que aumentassem os ataques a cristãos”.
Ainda assim, Hendriks-Ririmasse vê sinais de esperança, inclusive de boas relações entre as comunhões de igrejas na Indonésia e outros grupos religiosos. Os cristãos receberam forte apoio da comunidade islâmica mais moderada do país. “Eles têm nos dado um apoio muito forte nos episódios de ataque, manifestando-se publicamente de forma muito contundente”, disse.
Christina Biere, da Igreja Evangélica na Alemanha, comentou que no contexto europeu as relações inter-religiosas envolvem as comunidades de imigrantes. Citando recente pesquisa desenvolvida pela Universidade de Münster, assinalou que os alemães são menos tolerantes em relação aos muçulmanos do que seus outros vizinhos europeus.
Biere atribuiu a forte influência do tema da religião no debate acerca da imigração no país à escassez do diálogo inter-religioso na Alemanha. “Não tivemos um debate honesto e intenso sobre os muçulmanos e a imigração, diferentemente dos nossos vizinhos”, acrescentou.
Assim como em muitos outros contextos, a esperança recai sobre as novas gerações. Uma iniciativa apoiada por sua igreja junto a uma escola pública local, chamada “Você Sabe Quem Eu Sou?”, está produzindo “um diálogo saudável entre estudantes cristãos, muçulmanos e judeus, mas poucos destes esforços estão chegando nas igrejas locais”, lamentou.
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