CARTA DA 35ª ROMARIA DA TERRA
A Terra é de Deus, nos ensina a Bíblia (Lv.25,23) e nós somos todos hóspedes. A terra só será suja quando nós, seres humanos gananciosos, a sujamos com venenos, agrotóxicos, plásticos, poluições das mais diversas. Nós, infelizmente, temos o poder de “sujá-la”, de prostituí-la e mesmo, de matá-la. D. Guilherme Werlang.
Nós romeiros e romeiras da 35ª RT, reunidos na Comunidade de Bom Princípio Baixo, município de Santo Cristo, diocese de Santo Ângelo, com o tema AGRICULTURA FAMILIAR CAMPONESA: VIDA COM SAÚDE, reafirmamos a importância da Romaria da Terra, pois renova nossa fé, nossa esperança e nosso compromisso com a vida.
Sendo assim, defendemos e lutamos:
• pela agricultura familiar camponesa promotora do desenvolvimento rural sustentável e solidário;
• pela produção de alimentos livres de agrotóxicos e transgênicos como atitude concreta em defesa da vida, das pessoas e do meio ambiente;
• pela preservação do patrimônio natural das sementes, ervas medicinais, raças crioulas, da biodiversidade, como sinal do entendimento que Deus, se manifesta em todas as formas de vida;
• pelo consumo consciente e responsável, com sentido de suficiência para a sobrevivência e não da acumulação capitalista;
• pela prática de diminuir a produção de lixo (resíduos sólidos) e promover as iniciativas de reciclagem no meio rural e urbano;
• pelo fortalecimento da formação e motivação das lideranças comunitárias, na promoção do bem comum das comunidades rurais como sinal da verdadeira vivência de fé;
• pela valorização das mulheres e da juventude no meio rural em suas relações de trabalho na agricultura familiar e camponesa;
• pelo fortalecimento das agroindústrias familiares, cooperativas da agricultura familiar e camponesa como instrumento de promoção da economia solidária;
• pela produção de energia renovável como o biogás, energia solar e outras e pela não construção de barragens com a consequente expulsão do homem do campo;
• pela unidade dos movimentos sociais do campo em um projeto popular para nosso país que promova a justiça social.
35ª Romaria da Terra reúne milhares no Rio Grande do Sul
Sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012 – 10h49min
Mais de 15.000 romeiros e romeiras reuniram-se, nesta terça-feira de Carnaval, dia 21 de fevereiro de 2012, na comunidade de Bom Princípio Baixo, interior do município de Santo Cristo. A 35ª Romaria da Terra tratou o tema “Agricultura familiar camponesa: vida com saúde”.
A Romaria foi preparada e organizada pela Comissão Pastoral da Terra em conjunto com a Diocese de Santo Ângelo, que celebra seu Jubileu de Ouro de história. Evento já tradicional do calendário religioso do RS, a Romaria cumpriu uma de suas tarefas, a de ser uma voz profética na sociedade.
A Romaria congregou romeiros e romeiras de diferentes Igrejas cristãs, revelando seu caráter ecumênico. Em sua preparação e realização representou um espaço de parcerias entre comunidades, entidades da sociedade civil, organizações populares e o poder público.
A presença de 9 bispos, dezenas de padres e demais religiosos, políticos e lideranças atesta a certeza e a justeza da realização das Romarias da Terra. Esse espaço já tradicional no calendário religioso do RS fala claro ao denunciar os desmandos que atingem o povo sofrido e busca anunciar as boas novas, como o faz, ao incentivar a agricultura sem uso de agrotóxicos e o associativismo.
Num contexto social marcado por incertezas e crises a Romaria reafirmou sua fé na proposta da Agricultura familiar como caminho para a produção de alimentos saudáveis.
A comunidade de Bom Princípio Baixo foi escolhida para sediar essa Romaria, porque ali existem expressivas experiências de práticas da agricultura familiar. Iniciativas de associativismo e cooperativismo e formas marcantes de organização comunitária são também características significativas da maioria das comunidades do município de Santo Cristo, conhecido como terra do homem da terra.
O pregador dessa Romaria da Terra foi o bispo D. Guilherme Werlang, da Comissão de Justiça e Paz da CNBB. Em sua fala foi firme ao condenar o latifúndio que expulsa o homem que tira seu sustento do campo e o uso massivo de agrotóxico que gera os males que a sociedade enfrenta.
A presença do governador do Estado, Tarso Genro, representou um reconhecimento à caminhada de organização e das lutas dos movimentos sociais e populares.
A 35ª Romaria da Terra abordou questões muito sérias e complexas presentes na sociedade. Propôs o debate sobre os rumos da agricultura familiar. Denunciou os sistemas de produção com uso intensivo de agrotóxicos, nocivos à saúde das pessoas e ao meio ambiente. Questionou os projetos de construção das grandes barragens. Alertou para a insuficiência das políticas públicas de sustentação do trabalho na agricultura familiar. Apontou caminhos alternativos para a permanência e sustentação dos jovens no espaço da agricultura familiar.
http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=1¬iciaId=2766