Uma reflexão bíblica sobre o confisco de terras no tempo de Natal, Isaac Munther

Uma reflexão bíblica sobre o confisco de terras no tempo de Natal
by Nancy Cardoso Pereira on Thursday, December 6, 2012 at 7:11am ·

“Povo de  Sião eis que o Senhor está vindo para salvar todas as nações”.

Segundo domingo do Advento

Isaac Munther[1]

Confisco de terras não é um fenômeno novo. Na tradição bíblica, talvez nenhuma outra história ilustra este abuso de poder por parte do “rei” no que diz respeito à terra do que a história do rei Acabe e vinha de Nabote (1 Reis 21). O espaço relativamente grande que  recebeu esta narrativa no livro de Reis é uma indicação de que a narrativa exige atenção especial.

Acabe, rei do reino do norte, viu a vinha de Nabote, o jizreelita, e cobiçou a terra; presume-se que ele acreditava ter o direito divino de pedir a Nabote que “vende-se” a terra para ele (21:2).

Nabote, por outro lado, rejeitou esta pretensão – com base em sua crença de que esta é uma terra que lhe foi confiada por Deus como uma herança e, portanto, ele não poderia vendê-la (21:3).

A  rainha Jezabel intervém na história, e lembra que Acabe é rei de Israel, ele tinha o direito de tomar a vinha (21:7). O pressuposto é simples: “Só porque você pode, então você deve!”

A terra foi tomada, Nabote foi morto, e Acabe recebeu a vinha (21:16). Nenhum pedido de desculpas foi feito. Poder e manipulação estavam em jogo aqui. A vítima nesta narrativa foi Nabote, que representa os camponeses sem poder.

A maneira com que Nabote e Acabe estão ligados à terra manifesta uma contradição surpreendente.

Acabe trata como posse, mercadoria de comprar ou tomar. Nabote trata como herança, como um direito. Um acreditava que pertencia à comunidade, o outro queria para seu império.

A atitude de Nabote é semelhante à de muitos  agricultores palestinos de hoje.

Não é nenhuma surpresa que os palestinos tomem a oliveira como símbolo, para lembra-los de seu enraizamento e de pertença à terra. Essa atitude pode ser resumido nestas palavras:

 

 

Nabote é responsável por esta terra, mas não está no controle sobre ele. É o caso de que a terra não pertence a ele, mas que ele pertence à terra. Brueggemann

 

A Bíblia é um livro de esperança e de justiça, por isso a morte de Nabote não foi o fim da história. A história continua com julgamento de Acabe. Ele foi considerado culpado por assassinato e ” posse ilegal”. O rei, que era para ser o guardião da justiça na terra (Salmo 72), ao contrário, foi responsável por infligir injustiça contra o povo da terra. Deus interveio e fez justiça, pois ele é um Deus que se preocupa com a justiça. Acabe tinha esquecido que:

 

Justiça, e só a justiça, você deve seguir, e assim viver e herdar a terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. (Deuteronômio 16:20)

Nesta época de Natal, lembremo-nos de que a nossa esperança bíblica foi revelada no menino de Belém, que promoveu e encarnou uma nova forma de poder:  Jesus é o rei justo e humilde.

Como seus seguidores, hoje, Jesus nos convida a promover o seu reino e a sua visão para a terra: justiça e retidão deve caracterizar o nosso ministério.

 

[1] Belém Bible College; diretor da Conferência Internacional da Academia, Cristo no Checkpoint. Atualmente é doutorando no Centro de Oxford para Estudos da Missão. Sua pesquisa é sobre a teologia bíblica da terra, com uma referência especial para a Igreja palestina.

Palestinians prayed near Israeli soldiers on Friday. They were protesting land confiscation in the village of Qusra, near Nablus.

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