“Povo de Sião eis que o Senhor está vindo para salvar todas as nações”.
Segundo domingo do Advento
Isaac Munther[1]
Confisco de terras não é um fenômeno novo. Na tradição bíblica, talvez nenhuma outra história ilustra este abuso de poder por parte do “rei” no que diz respeito à terra do que a história do rei Acabe e vinha de Nabote (1 Reis 21). O espaço relativamente grande que recebeu esta narrativa no livro de Reis é uma indicação de que a narrativa exige atenção especial.
Acabe, rei do reino do norte, viu a vinha de Nabote, o jizreelita, e cobiçou a terra; presume-se que ele acreditava ter o direito divino de pedir a Nabote que “vende-se” a terra para ele (21:2).
Nabote, por outro lado, rejeitou esta pretensão – com base em sua crença de que esta é uma terra que lhe foi confiada por Deus como uma herança e, portanto, ele não poderia vendê-la (21:3).
A rainha Jezabel intervém na história, e lembra que Acabe é rei de Israel, ele tinha o direito de tomar a vinha (21:7). O pressuposto é simples: “Só porque você pode, então você deve!”
A terra foi tomada, Nabote foi morto, e Acabe recebeu a vinha (21:16). Nenhum pedido de desculpas foi feito. Poder e manipulação estavam em jogo aqui. A vítima nesta narrativa foi Nabote, que representa os camponeses sem poder.
A maneira com que Nabote e Acabe estão ligados à terra manifesta uma contradição surpreendente.
Acabe trata como posse, mercadoria de comprar ou tomar. Nabote trata como herança, como um direito. Um acreditava que pertencia à comunidade, o outro queria para seu império.
A atitude de Nabote é semelhante à de muitos agricultores palestinos de hoje.
Não é nenhuma surpresa que os palestinos tomem a oliveira como símbolo, para lembra-los de seu enraizamento e de pertença à terra. Essa atitude pode ser resumido nestas palavras:
Nabote é responsável por esta terra, mas não está no controle sobre ele. É o caso de que a terra não pertence a ele, mas que ele pertence à terra. Brueggemann
A Bíblia é um livro de esperança e de justiça, por isso a morte de Nabote não foi o fim da história. A história continua com julgamento de Acabe. Ele foi considerado culpado por assassinato e ” posse ilegal”. O rei, que era para ser o guardião da justiça na terra (Salmo 72), ao contrário, foi responsável por infligir injustiça contra o povo da terra. Deus interveio e fez justiça, pois ele é um Deus que se preocupa com a justiça. Acabe tinha esquecido que:
“Justiça, e só a justiça, você deve seguir, e assim viver e herdar a terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. (Deuteronômio 16:20)
Nesta época de Natal, lembremo-nos de que a nossa esperança bíblica foi revelada no menino de Belém, que promoveu e encarnou uma nova forma de poder: Jesus é o rei justo e humilde.
Como seus seguidores, hoje, Jesus nos convida a promover o seu reino e a sua visão para a terra: justiça e retidão deve caracterizar o nosso ministério.
[1] Belém Bible College; diretor da Conferência Internacional da Academia, Cristo no Checkpoint. Atualmente é doutorando no Centro de Oxford para Estudos da Missão. Sua pesquisa é sobre a teologia bíblica da terra, com uma referência especial para a Igreja palestina.
Palestinians prayed near Israeli soldiers on Friday. They were protesting land confiscation in the village of Qusra, near Nablus.