Nessa coluna, vamos conversar sobre um tema fascinante: teologia e cultura. Mas antes de começarmos, gostaria de fazer algumas observações. Em primeiro lugar, acho importante dizer que pretendo citar constantemente nomes, livros, obras artísticas, lugares e referências, permitindo ao leitor que busque se aprofundar nos temas abordados por si mesmo. Em segundo lugar, já quero alertar os leitores que os temas aqui desenvolvidos estarão sempre se movendo, em processos tanto lineares quanto de interrupção, ou seja, tanto de certezas quanto de dúvidas e isso porque Deus também trabalha na imprevisibilidade e na fraqueza da vida. Acredito que a fé torna-se madura na medida em que ela não teme a contestação e os desafios. Como dizia Paul Tillich (1), a dúvida deve fazer parte constante da fé cristã. A ausência de dúvida não significa uma fé sólida como costumamos imaginar, mas ao contrário, ela pode tornar-se dogmática, violenta e até mesmo idólatra se ela se solidificar mais nos jeitos (teologias) de acreditar em Deus do que naquilo que se acredita (Deus).
Nessa coluna, desenvolveremos uma teologia feita entre exclamações, interrogações, ponto-e-vírgulas e reticências. Poucos serão os pontos finais, visto que na gramática teológica ou no vocabulário da fé, que tenta dizer o indizível e definir o indefinível, estamos sempre fadados ou a dizer demais ou a não dizer o suficiente ou o necessário, ou ainda o propriamente esperado. A teologia, nosso entendimento de Deus, constrói-se também na medida em que Deus nos desconstrói, e o vento de Deus que sopra de lugares desconhecidos também nos leva para lugares inimagináveis.
Mas o que é teologia? Teologia é um jeito de falar de Deus, um jeito de apreender e interpretar Deus com as ferramentas que dispomos: linguagem, corpo, pensamento, tradição, inspiração etc. Teo-logia é o logos, a palavra que fala, manifesta e é vazada pelo theos, a divindade. A história da teologia é a história das inúmeras interpretrações de Deus. Deus e nossas palavras fazem parte, no dizer de Paul Ricouer (2), de uma estrutura simbólica e material que se alimentam e criam mundos reais e imaginários. A teologia também vive nesse espaço entre o real e o imaginário, enquanto ela constrói e desconstrói os mundos e as formas pelas quais esses mundos (nossa vida, nossos desejos, nossas decisões) são entendidos, expressos e desenvolvidos.
Nesse espaço entre o real e o imaginário, as palavras sempre vão nos faltar, fazendo do nosso trabalho teológico – e todos nós somos teólogos de um jeito ou de outro – um trabalho sempre falho e por terminar. Deus é a interrupção de nossas palavras. Estamos sempre diante de uma aporia (3), um lugar onde o falar de Deus torna-se impossível e nada podemos fazer, nem falar nem ficar em silêncio; um lugar estranho onde o Espírito revolve para além de nossa capacidade de entendimento e, muito menos, de definição. Caminhamos, então, entre tentativas de falar de Deus, pois achar a única e verdadeira descrição divina – teológica ou não-teológica – é cair nos lagos de areias movediças da idolatria e prender a Deus em gaiolas humanas para nosso próprio alívio e conforto. Não! A teologia também trabalha com o incerto, com os erros, com as impossibilidades, com os desconfortos, com o rejeitado, com o ausente. É assim que vamos fazer teologia nesse espaço, permitindo que o vento de Deus nos leve para lugares onde nossa fé temerosa nunca nos deixou ir.
No que se refere à cultura, existem tantas definições de cultura que não exigirei aqui uma definição única. Como conceito móvel, vamos trabalhar com suas diversas possibilidades e contradições. Teologia e cultura são indivizíveis e é nessa mistura entre o que somos, o que fomos e o que seremos que interpretamos Deus e o mundo. A teologia da cultura aponta para as formas que nós interpretamos Deus e o mundo a partir de escolhas biográficas, teóricas, lingüísticas, históricas, culturais, sociais, econômicas, artísticas, sexuais, corporais e de gênero (masculino / feminino). O acesso à Bíblia nunca é desprovido de ferramentas de interpretação que definiram, definem e definirão nosso entendimento e relação com Deus. Dessa forma, não existe “teologia pura” que venha diretamente de Deus sem passar pelos escaninhos humanos de interpretação (cultura). Vamos desenvolver esse aspecto mais pausadamente em artigos futuros.
E a letra “e”? A partícula “e” de “teologia e cultura” denota não a divisão entre teologia e cultura mas sim a inter-relação e a interdependência entre estes dois campos, mostrando que eles não são estranhos e autônomos. E como vamos trabalhar dentro desta interdependência? Como faremos isso? Bem, vamos conversando…
Bem-vindos a essa nova coluna!
(1) Paul Tillich é um dos maiores teólogos protestantes do século XX. Alemão, participou como capelão da I Guerra Mundial e teve que fugir de seu país quando Hitler tomou o poder. Foi para os Estados Unidos e lá ensinou no Union Theological Seminary, na Harvard Divinity School e na Universidade de Chicago.
(2) Paul Ricouer é um pensador francês cristão que trabalhou com vários temas filosóficos e teológicos, como interpretação, fenomemologia, estudos bíblicos, conceitos de metáfora, utopia, ideologia, análise de Freud etc.
(3) Aporia é o lugar da indeterminação, onde os “nós duplos” da realidade, os entrevãos, não se desfazem, não podem ser acessados pelo nosso pensar nem ser propriamente definidos. A aporia é o lugar que denuncia as coisas que esquecemos no processo de construção do pensamento, o que inclui também a teologia.
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Pax et bonum
Claudio, muito prazer e parabéns pelo belíssimo comentário acima sobre teologia e cultura. Sou acadêmico do curso de teologia da UniBennett e tenho que entregar a minha monografia até o dia 25 deste mês… tenho um livro de crônicas publicado, gosto e tenho muita facilidade em escrever, mas estou travado. Não sei se pelo rigor acadêmico ou se pelo curto prazo, fato é que estou com dificuldades.
Achei o seu blog e ele está me ajudando muito.
Se vc tiver mais textos a respeito e puder me enviar eu te agradeço.
O tema da minha monografia será:
TEOLOGIA E LITERATURA: A MÍSTICA E A POÉTICA NA OBRA "TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA" DE LIMA BARRETO.
Deus o abençoe.
Clayton Rêgo Mendes