Deus de todas os nomes e de todas as coisas
Nos achegamos diante de ti
Com nossos corações pesados
Cansados
Quase mudos
Arrebentados pelos acontecimentos em santa Maria
Nada parece nos aquietar
Nossa alma conhece o peso inapelável da morte e o gosto amargo do luto
Nada parece ter a força de arrancar a nossa dor diante dessa tragédia
Absurda como toda tragédia
Onde tantas de nossas irmãs e irmãos morreram antes do tempo
Gente que estava feliz, andando pela vida como quem sorri e canta e dança…
E que de repente
se vão
para sempre
E nos deixaram aqui sem saber o que fazer, o que dizer
e agora
Sem saber como viver…
Em nossa fraqueza e aflição, dá-nos algo
algo que nossa mão consiga segurar
algo que nosso olhar consiga se fixar
algo que consiga entrar em nossos corações
agora feitos de pedra.
Dá-nos algo que se assemelhe a paz
que se pareça com alguma força
quiça uma alegria de lembranças que ficaram
e
se num for pedir demais
que traga um pouco de vida
que hoje parece não haver em lugar nenhum.
Tem pena de nós!
Não pedimos explicação
Não te cobramos nada
Porque o absurdo da vida também faz parte da vida plena que tu nos prometeste
Não entendemos!
Mas a gente queria tanto…
Como é que isso pode acontecer?
Não entenderemos, sim sabemos,
mas entre a dor, o luto e o espanto
pedimos alguma forma de vida a nos visitar
Que os paramédicos, os médicos, e os bombeiros
e os agentes sociais, acompanhantes terapêuticos, e os psicólogos,
e todos que ali foram e que se colocam a disposição
junto com toda a solidariedade oferecida
sejam sinal da vida que vivemos juntos
e que juntos, lado a outro,
cuidando um dos outros
nos enfileiremos em busca do aconchego e do calor que a gente precisa
pra não morrermos sozinhos em nossa indignação, frustração e desassossego
Que nessa estrada que não cabe onde termina
Onde a luz que cega quanto ilumina
E a pergunta que emudece o coração
Que Tu venhas em nosso socorro.
Com o Salmista gritamos e gritaremos com o resto de voz que ainda nos foi guardada:
“Elevo meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro?”
E no meio de um aos outros, segurando as mãos uns dos outros
a gente responde ainda com o salmista:
“O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.”
Tem piedade de nós Senhor
Tem piedade de nós.
Cláudio Carvalhaes
27 Janeiro de 2013