Deus tem pensa de nós!
Veja o que nós somos capazes de fazer!
Hoje mais um sinal de ódio e barbárie acometeu o Brasil. Cleydenilson Pereira Silva, um jovem de 29 anos, negro, foi morto no Maranhão. Depois de tentar roubar alguma coisa, ele foi pego e amarrado a um poste ele foi atacado com pedradas, socos, pontapés, garrafadas e pauladas. Um gesto que se repete, só no Maranhão são 10 os casos de linchamento desde Janeiro de 2014. No Rio vimos o menino que foi chaveado em público, selvageria virando o mais do mesmo. O mesmo que remonta os tempos em que negros eram expostos em praça pública para serem açoitados e vilipendiados, sobrando a eles nada, nem mesmo o que a gente pode chamar de vida.
Esse linchamento não vem do nada, e o açoitamento público de Cleydenilson não foi idéia inusitada do povo. Ao contrário, ao se amarrar Cleydenilson, puxamos da memória fatos e gestos que nos fizeram ser a nação que somos. O linchamento vem da memória dos 300 anos de escravidãoe e racismo de nossa história. Se ainda persistem é porque ainda o vivemos. O racismo brasileiro mudou de estratégia política e social e também de discurso reacionário mas ainda existem no mais profundo da tessitura social de nosso país. A revolta social demonstrada neste gesto tem a ver com a violência sentida pela população, uma sensação de medo e de claro desprezo pelos políticos que deveriam cuidar do povo. Buscar a vingança que pensa dar sentido e vazão ao medo e ódio que nos consomem, servem para dar alívio e um alento que nos mostre que temos alguma forma de poder, que podemos tomar a vida pelas mãos. Já que ninguém esta nem ai, a gente mata o que nos quer matar.
Entretanto, ao apontarmos nossos murros e socos e pedras ao Cleydenilson, erramos o alvo! Nosso alvo não deveria ser esse rapaz mas sim a classe rica desse país, os políticos e pastores nefastos desse país, as empresas multinacionais que vão destruindo nosso sistema natural. Eduardos, Felicianos, Malafaias, e todos os que apoiam e votam com eles, bancadas ruralistas, bancos, e o agro-negócio, esses sim deveriam receber nossa mais profunda raiva na forma de luta diária e continuada. Não para colocarmos estes senhores em postes para açoitamento mas para serem enfrentados na luta social, ao tomarmos as ruas todos os dias cercando os lugares de poder com pressão e demandas, revelando quaisquer possíveis acordos escusos e trambicagens em luta própria, até que estes senhores que tomaram os lugares de poder de nosso país saiam de lá enxotados pela honra de um povo honesto. Luta essa que se faz unindo-se à movimentos sociais que lutam pelos mais pobres e que demandam mudanças profundas que precisam ser feitas.
Não é o Cleydenilson ou os bandidos da rua que nos matam, muito embora muitos já tenham experimentado esse sinais de desgraça. O que nos mata é nossa letargia política, nossa visão turvada da realidade, nosso desejo de ser como os ricos, nossa aceitação a discursos de ódio, nossa ética dúbia que apoia pequenas sacanagens em nosso favor, nosso olhar raivoso aos pobres, nossa xenofobia, todos elementos potentes para se votar em políticos como os que temos, que seguem abandonando o povo e patrocinando empresas e empresários, nos matando devagarzinho dia após dia com horrores sem fim. Cleydenilson foi mais um boi de piranha, para que a polícia continue a matar os mais pobres, para que os políticos ganhem sobrevida em suas inanições, para que os meios de comunicação continuem a nos dar uma linguagem reciclada para que continuemos a odiar os pobres, para que acordos escusos e de destruição continuem.
Oremos:
Kyrie Eleison – Senhor tem pena de nós, porque somos capazes de matar Cleydenilson e sentir um certo requinte de satisfação.
Kyrie Eleison – Senhor tem pena de nós, e porque somos capazes de continuar sentados a fazer panelaços contra o governo sem propor nada que de real poderia mudar a vida do nosso Cleydenilson.
Kyrie Eleison – Senhor tem pena de nós, Que tua presença o receba com alegria, e que teu óleo santo sare as feridas de seu corpo todo desfigurado.
Foto: Biné Morais no site do extraglobo: http://extra.globo.com/casos-de-policia/caso-de-linchamento-no-maranhao-o-decimo-noticiado-no-estado-em-18-meses-16691433.html