Por Ruy Sposati,
de Brasília
A situação dos Kaiowá e Guarani envolvendo as comunidades de Passo Piraju, Arroio Korá, Potreto Guasu,Laranjeira Nhanderu e, especialmente, Pyelito Kue, todos no Mato Grosso do Sul, comoveu sociedades de todo o mundo na última semana – e gerou interpretações diferenciadas sobre o que queriam dizer os indígenas com a carta que denunciava o despejo da aldeia e a ‘morte coletiva’ de 170 pessoas.
Integrantes da Aty Guasu conversaram com Líder Lopes – ou Apykaa Rendy, “Trono Iluminado”, em Guarani – uma das principais lideranças da comunidade de Pyelito Kue sobre a situação da aldeia, seus problemas, expectativas e sobre a carta, alvo de diversas mobilizações internacionais. A íntegra da conversa foi publicada em um vídeo pela Aty Guasu.
Em novembro, a comunidade completa um ano de retomada do território – e um ano de muitos problemas. “Não temos saída [da aldeia]. As pessoas que estão doentes não têm por onde sair. Não têm recurso. As crianças também não têm onde estudar. Não têm roupa. As cestas da Funai não estão chegando para a gente. Não temos atendimento da Funasa. Mas mesmo assim, nós estamos aqui”, conta Líder Lopes.
“Estamos em um lugar apertado. Os fazendeiros não querem que a gente abra caminhos, não querem que a gente passe no meio do pasto. Nós atravessamos pelo rio”, explica. “Tudo acontece com a gente. Ameaças, não por indígenas, mas pelo próprio fazendeiro, ameaças pelos pistoleiros, ameaçando a gente. Por isso, nós guerreamos pela nossa terra”.
Suicídio coletivo
Questionado sobre as interpretações de que os Kaiowá de Pyelito Kue cometeriam suicídio coletivo, Apykaa explica a posição da comunidade. “Se a gente vai se suicidar? Se a gente vai se matar? Não, nós não iremos fazer isso”, comenta. “Se for para a gente se entregar, nós não nos entregaremos fácil. É por causa da terra que estamos aqui, nós estamos unidos com o mesmo sentimento e com a mesma palavra para morrermos na nossa terra. Esta terra é nossa mesmo!”
“Os brancos querem nos atacar. Por isso nós dizemos: morreremos pela terra! Mas a ideia da gente se matar, ou se suicidar, nós não iremos fazer. Nós morreremos se os fazendeiros nos atacar. Aí poderemos morrer!”
“Desde o começo que nós entramos lá, estamos firme. A comunidade falou que não vai desistir. Queremos retomar a terra que foi dos nossos avós, onde os nossos parentes morreram. Queremos realmente ocupar essa terra. Viveremos realmente neste lugar! Esta terra não é dos brancos, é nossa e de nossos antepassados. Se a gente perder a nossa vida será por causa da terra”, conclui Apykaa.
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Não nos entregaremos fácil”, afirma Kaiowá de Pyelito Que
Antonio Carlos Ribeiro
Brasília (ALC/Cimi) – Indígenas Kaiowá e Guarani das comunidades de Passo Piraju, Arroio Korá, Potreto Guasu, Laranjeira Nhanderu e, especialmente, Pyelito Kue, do Mato Grosso do Sul, cujo drama comoveu o Brasil e o mundo nesta semana de sociedades que trabalham com direitos humanos ao redor do mundo. Sua atitude firme diante do risco de despejo da aldeia gerou interpretações diferenciadas, a partir do clima tenso criado, entre elas a de um pacto de ‘morte coletiva’ de 170 pessoas, detacou a nota 1037 do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
O jornalista Ruy Sposati entrevistou o líder Lopes ou Apykaa Rendy – Trono Iluminado, em Guarani – que é uma das principais lideranças de Pyelito Kue. Ele falou da situação da aldeia, dos problemas, expectativas e da carta que denunciou a situação e provocou diversas mobilizações internacionais.
A comunidade completa um ano de retomada do território no próximo mês, e de novo vive sob a tensão de decisões da Justiça que muda decisões, além de um ano de muitos problemas. “Não temos saída [da aldeia]. As pessoas que estão doentes não têm por onde sair. Não têm recurso. As crianças também não têm onde estudar. Não têm roupa. As cestas da Funai não estão chegando para a gente. Não temos atendimento da Funasa. Mas mesmo assim, nós estamos aqui”, contou o líder.
Lopes denunciou ainda os riscos da região. “Estamos em um lugar apertado. Os fazendeiros não querem que a gente abra caminhos, não querem que a gente passe no meio do pasto. Nós atravessamos pelo rio”, explicou. “Tudo acontece com a gente. Ameaças, não por indígenas, mas pelo próprio fazendeiro, ameaças pelos pistoleiros, ameaçando a gente. Por isso, nós guerreamos pela nossa terra”, denunciou.
Sobre as denúncias de suicídio coletivo, Lopes explica a posição da comunidade. “Não, nós não iremos fazer isso”, acrescentando que “se for para a gente se entregar, nós não nos entregaremos fácil. É por causa da terra que estamos aqui, nós estamos unidos com o mesmo sentimento e com a mesma palavra para morrermos na nossa terra. Esta terra é nossa mesmo!”
“Desde o começo que nós entramos lá, estamos firme”, insistiu. “A comunidade falou que não vai desistir. Queremos retomar a terra que foi dos nossos avós, onde os nossos parentes morreram. Queremos realmente ocupar essa terra. Viveremos realmente neste lugar! Esta terra não é dos brancos, é nossa e de nossos antepassados. Se a gente perder a nossa vida será por causa da terra”, insistiu Lopes.
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