Movimentos do Corpo e da Alma, Cláudio Carvalhaes

 

Sou pássaro no pé do vento
Que vai voando a esmo em plena primavera
Cantando eu vivo em movimento
E sem ser mais do mesmo
Ainda sou quem era. – Maria Gadu

A vida é feita de movimentos, e movimentos nos levam para caminhos que escolhemos e que somos escolhidos. Em todo caminho há um caminho há um caminho há um caminho há…

O poder de escolher um caminho talvez seja a benção maior, pois a possibilidade da escolha é a vida nos dando chances. Mas talvez não, pois os caminhos a que somos escolhidos para andar também são feitos de chances outras, pra gente quem sabe, celebrar. Em todo caminho, o risco, a possibilidade da alegria e da não alegria. Em cada caminho que a gente começa, um mundo escolhido extingue a possibilidades de milhões de outros caminhos e movimentos. O acaso, a providência, o destino, tudo misturado sem muita possibilidade de compreensão. Somos o que a vida fez e a gente se deixou fazer. Nos caminhos males que vão pra bem e outros que nem tanto. E se o caminho é bom ou ruim, o tempo vai dizer….

O fim do caminho ninguém sabe. Vale mais o caminho do que o fim do caminho. Num é no caminhar que se faz o caminho? Pois então, o fim do caminho vem do jeito como se anda e faz, e quer e consegue fazer o caminho.

Cada caminho começa de num jeito. Uns começam no começo, outros no meio e outros no fim. Seja lá como for, é preciso que se faça o caminho com desejo, confiança, resiliência e vontade de caminhar. Mesmo quando tudo isso nos falta.

Os ventos vem e virão, nos abatendo ou nos lançando pra frente! E as curvas, essas nossas companheiras, se apresentarão aqui e ali . E lá nas curvas das tantas  sinuosas e tortuosas estradas de Santos, a gente se sempre há se se deparar com o imponderado. Um amor, um alguém, um lugar, um evento, um olhar, uma palavra, um e-mail, um facebook, uma música, um alguma coisa qualquer. Essa uma coisa que pode nos prostrar e pode nos erguer. O lindo que acontece e que pode acontecer. Nessas curvas, a gente curva e se encurva, dobra, se entorta e tenciona, e espera contra toda a esperança, que a gente há de num quebrar! A reza então vira companheira: Deus seja!

Também nos caminhos, há aqueles que a gente vive rodeando o toco, vive no rodemunho da vida sem sair de lá, repetindo o mesmo e eterno retorno. Quando se caminha nesses caminhos, o tempo ajuda! Pois é o tempo que nos faz entender umas coisinha ou duas, até a gente parar de rodear o que nos guarda e prende, amedronta e estanca. Libertos se libertando, deixando para trás o que para trás fica, caminhamos para enfrentar a alegria de caminhos que se fazem novos.

Pois que o tempo, senhora dos caminhos, nos ajude a andar depressa como jovens cheios de força quando preciso for; que nos ajude a ir devagar, no passo do gado e das crianças quando assim se fizer necessário. E que nos ensine a saber a diferença entre os ritmos da vida, pra que a gente aprenda também a parar e sentar e olhar e ponderar o que está ao nosso redor.

Uma coisa talvez seja preciso lembrar: nos movimentos do corpo e da alma, o melhor ainda está por vir. E outra coisa talvez seja melhor não esquecer: o caminho é curto, sempre curto. Mesmo quando se percorre longos caminhos, o caminho vai diminuindo, e vai pertencendo mais aos outros que a nós mesmos.

Por fim, em qualquer caminho, a gente é feito de movimentos do corpo e da alma que outros nos legaram. Mais, os caminhos também são feitos de movimentos do corpo e da alma que foram marcados pelo trabalho das nossas mãos na terra que a gente come, fustiga e semeia. Hoje e pro futuro. Pois os caminhos também são feitos de movimentos do corpo e da alma moldados pelos sonhos que sonhamos do futuro mas ensaiamos hoje. Para que amanhã, a gente possa deixar um caminho melhor quem sabe, pra quem ainda está no caminho, e também para quem virá.

 

 

 

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