Queridos brasileiros e brasileiras,
Está rolando no facebook esse vídeo acima do Morgan Freedman, ator nos Estados Unidos nos ensinando como acabar com o racismo em 40 segundos. Esse vídeo é bem perigoso para nós no Brasil se a gente não entender que a luta do racismo, escravidão e segregação nos Estados Unidos tem uma história bem diferente da brasileira, especialmente no que tange a história dos Direitos Civis e toda a luta engendrada por Martin Luther King Jr. e que ainda precisa continuar a ser feita nos Estados Unidos. Por mais que seja bom pensar como Morgan Freeman, o racismo não vai embora se simplesmente não existir um mês de consciência negra.
Da mesma forma que temos dia das crianças, do índio, do negro, da mulher, dos portadores de deficiências físicas, dia da reforma agrária, disso e daquilo, muitos deles criados pela ONU, UNICEF e governos de diversos países. Esses dias tem a intenção de chamar a nossa atenção para os problemas ainda existentes em nossa sociedade quanto à esses grupos de pessoas e do contínuo esquecimento das lutas e direitos ainda a serem adquiridos. Esses dias não esgotam seus problemas mas nos chamam atenção à necessidade de mudanças, por isso sua existência. Mas o ponto aqui nem é se é bom ou ruim o mês da consciência negra mas sim a indevida apropriação no Brasil, visto nossa história contra o racismo no Brasil ter ainda muito por ser feita.
Também, nós brancos gostamos do vídeo porque parece nos dar a sensação de dizer: pára de falar dessa coisa de racismo que eu não aguento mais! É como se a gente precisasse de 40 segundos e da fala de um negro para eliminar a nossa contínua luta contra o racismo. Dizer que devemos parar de chamar um ao outro de preto e branco e que isso vai acabar com o racismo é no mínimo simplista, e no máximo, outro ato racista, de abandono da questão que nos marca enquanto brasileiros. Quem dera se ao não chamarmos uns aos outros assim faria tudo acabar. Talvez seja um passo, não sei, mas nossa luta contra o racismo cordial e explícito em nosso país e que acontece todo e santo dia, precisa ser combatido, com 12 meses de consciência negra!! A cada dia uma oração pessoal de perdão por sermos e continuarmo as a ser racistas. Porque o racismo só vai começar a acabar quando cada um de nós assumir: sou racista!
E aproveitando, nesse 20 de novembro, aos meus irmãos negros e minhas irmãs negras, me lembro que é nos meus 365 dias de vida que tenho que oferecer minha solidariedade, meu constante pedido de perdão e luta pela igualdade que um dia virá! Como continuarei a luta com as mulheres, com as crianças, com os índios, com os portadores de deficiências físicas…
Cláudio Carvalhaes
Cláudio, disse Sartre, no auge de seu existencialismo, "o discriminado é aquele que discrimina". Por um lado, a história nos mostra os abusos e as atrocidades do racismo e da escravidão. Por outro, Morgan Freeman (que tem "Homem Livre" até no nome) está correto em deixarmos de chamar um de branco e outro de negro. Isso não seria um outro ato racista e nem daria margem para outros racismo: seria o abandono das diferenças em sua totalidade. Evidentemente você discorda, pois desmontaria os pressupostos e ideias de vossa luta. Porém, não há outra saída e não ser abandonar a dicotomia. Sou negro e não me sinto o "negro" que os movimentos sociais tanto lutam a favor. Pois neste estágio de consciência de liberdade, "o discriminado é aquele que discrimina". Um abraço. Rômulo.
Rômulo, disseste tudo!
Morgan Freeman disse tudo e há algumas décadas os EUA evoluiram muito neste sentido. Já no Brasil, dos anos 90 para cá o país criou tantas regras raciais que muitos Negros sentiram um grande desconforto, como afirma o leitor Rômulo acima. Retrocedemos, infelizmente. Cotas, passeatas, datas comemorativas, ONGs específicas, somente servem para segregar. Somos todos iguais e ponto. Aceitar regras diferenciais é aceitar que é diferente.