1- o mercado descontrolado
desregulado desenfreado
a bolsa é da família
mas o lucro da bolsa é
do bolso do burguês
dane-se o desempregado
o útero sob controle
hiper super regulado
freio de mão da lei
covardia de
bispos e juizes
marcha ré
a ré sou eu
a culpa que me pariu
2- a bolsa de valores
inventados
números e papéis
de produzir nada
e parir o lucro
a bolsa d’água
do rio doce
vale o feto
o útero da terra
revirado
mas valia mineral
mulher não vale
a celulose que o pariu
3- o capital imaculado
santo feito deus de
virgens financeiras
intocáveis bancos
de quadris confortáveis
paridores de vento
pecadoras, as mulheres
se curvam diante do altar
almejam graça crédito
um milagre ou dois
ou putas se arriscam
na solidária erótica
de economias
socialistas feministas
a luta que nos pariu
4-“a crise! vejam… a crise!”
como se não estivesse
sempre estado lá
no estupro da semente
na curra do São Francisco
no assédio da floresta
no crime do salário
a crise mora faz tempo
na fábrica e na panela
no cabo da enxada
na ponta do lápis
na agonia da escola
ai! professoras índias
agricultoras e operárias
a crise que nos pariu
5-“eis que vem a salvação!”
eles dizem
protetores provedores
príncipes montados
na cavalgadura do Estado
e salvarão os mercados
resgatarão as empresas
beijarão os bancos
como se fossem
mocinhas indefesas
chamem o pai!
ou inventem a mãe-da-pátria
outro patrão
um amante disposto
a pagar pelo gozo falso
da economia que nos pariu
6-eu não! eu não! nós não!
nascemos num 8 de março
somos filhas da decisão
do desejo paridor
de antigas-novas revoluções
“sem feminismo não há socialismo”
é o que diremos
de novo outra vez
reforma agrária
do meu próprio chão
minha bolsa útero e tesão
meu direito de decidir
organizadas orgasmizadas
a história que nos pariu!
nancy cardoso pereira