Minha bolsa útero e tesão, Nancy Cardoso Pereira

1- o mercado descontrolado

desregulado desenfreado

a bolsa é da família

mas o lucro da bolsa é

do bolso do burguês

dane-se o desempregado

o útero sob controle

hiper super regulado

freio de mão da  lei

covardia de

bispos e juizes

marcha ré

a ré sou eu

a culpa que me pariu

 

2- a bolsa de valores

inventados

números e papéis

de produzir nada

e parir o lucro

a bolsa d’água

do rio doce

vale o feto

o útero da terra

revirado

mas valia mineral

mulher não vale

a celulose que o pariu

 

3- o capital imaculado

santo feito deus de

virgens financeiras

intocáveis bancos

de quadris confortáveis

paridores de vento

pecadoras, as mulheres

se curvam diante do altar

almejam graça crédito

um milagre ou dois

ou putas se arriscam

na solidária erótica

de economias

socialistas feministas

a luta que nos pariu

 

4-“a crise! vejam… a crise!”

como se não estivesse

sempre estado lá

no estupro da semente

na curra do São Francisco

no assédio da floresta

no crime do salário

a crise mora faz tempo

na fábrica e na panela

no cabo da enxada

na ponta do lápis

na agonia da escola

ai! professoras índias

agricultoras e operárias

a crise que nos pariu

 

5-“eis que vem a salvação!”

eles dizem

protetores provedores

príncipes montados

na cavalgadura do Estado

e salvarão os mercados

resgatarão as empresas

beijarão os bancos

como se fossem

mocinhas indefesas

chamem o pai!

ou inventem a mãe-da-pátria

outro patrão

um amante disposto

a pagar pelo gozo falso

da economia que nos pariu

 

6-eu não! eu não! nós não!

nascemos num 8 de março

somos filhas da decisão

do desejo paridor

de antigas-novas revoluções

“sem feminismo não há socialismo”

é o que diremos

de novo outra vez

reforma agrária

do meu próprio chão

minha bolsa útero e tesão

meu direito de decidir

organizadas orgasmizadas

a história que nos pariu!

 

nancy cardoso pereira

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