Estórias Abensonhadas de hoje / Blessed stories of today

 Hoje foi assim  / Today was like this

estava no metro em Nova York e uma senhora, negra, velhinha, talvez sem teto, começou a cantar um spiritual tão lindo que dizia: “Você não conheço o Espirito Santo? Everything is going to be all right.” Ai ela foi no vagão todo abençoando a cada um de nós que estava no vagão. E ninguém quase prestou atenção. Eu chorei tanto, acho que foi a benção dela.

I was on the subway in New York city and a black old beautiful lady, maybe homeless, began to sing such a beautiful spiritual saying: “Don’t you know the Holy Spirit? Everything is going to be all right?.” Then she went through the whole wagon blessing each of us who was there. Almost nobody paid attention. I started crying… it was her blessing.

hoje a noite fui tomar sopa num restaurante hispano bem simples. Dai a sopa que pedi estava acabando mas era suficiente. Mas a moça foi na sopa do lado e pegou dois pedaços de frango pra compor. Num precisava, porque ninguém faz isso aqui. E me deu um prato derramando. E chorei de novo comendo sopa.

tonight I went to a very simple Hispanic restaurant in the Bronx. I ordered soup. The soup was running out but it was enough. however, the woman serving me went to the soup next to it and grabbed two pieces of chicken to make it better. Nobody does that here. And she gave me a plate that was overflowing. And I cried again eating soup.

Ai ganhei esse poema de presente.

 Água dos olhos, João Guimarães Rosa

Há uma hora certa, no meio de noite, uma hora morta, em que a água dorme.

Todas as águas dormem: no rio, na lagoa, no açude, no brejão, nos olhos d’água, nos grotões fundos.

E quem ficar acordado, na barranca, a noite inteira, há de ouvir a cachoeira parar a queda e o choro, que a água foi dormir…

Águas claras, barrentas, sonolentas, todas vão cochilar.

Dormem gotas, caudais, seivas das plantas, fios brancos, torrentes.

O orvalho sonha nas placas de folhagem.

E adormece até a água fervida, nos copos de cabeceira dos agonizantes…

Mas nem todos dormem, nessa hora de torpor líquido e inocente.

Muitos hão de estar vigiando, e chorando, a noite toda, porque a água dos olhos nunca tem sono…

João Guimarães Rosa

 

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