Brasileiros Estrangeiros

Como eu gostaria que as pessoas parassem de me encher as paciências quando me acusam de ser menos brasileiro porque não moro no Brasil, de não poder falar do Brasil porque não vivo ai, de dizer que tenho visões distorcidas porque não estou passando pela realidade brasileira. De fato, essas acusações acontecem, quase sempre, quando deixo claro minhas posições “radicais” a favor dos pobres e claro, não concordo em votar no Aécio e no PSDB. Mas vejam só uma coisa minhas irmãs brasileiras e meus irmãos brasileiros, minhas relações com o Brasil são as mesmas e são muito outras que as de vocês. Vivo a brasilidade de um jeito torto, diferente de vocês, num espaço liminal que é bem difícil de viver. Porque aqui desse outro lado da América, por exemplo, eu não deixo de ser brasileiro nunca, porque os gringos nunca perdem uma oportunidade em deixar claro que eu não pertenço a este país. Continuo sendo brasileiro e amando o Brasil, imensamente, mesmo não sendo nacionalista. E mesmo não sendo, e apesar de toda ambiguidade, quero ser contado com os pobres, com os índios, do Brasil, dos istaites, da Guatemala, da Palestina, e de onde for, e lutar por quem viva espoliado pela ganância e exploração de brasileiros e outros cidadãos de outras partes do mundo. Por isso queridos amigos e amigas brasileiras/os de nacionalidade e brasilidade de primeira classe e categoria, deixem sua mentalidade tacanha de lado e parem com acusações baixas e inconsequentes. Desenvolvam um pouco mais o sentido do que pode ser um brasileir/a. Façam um favor: comecem lendo esse artigo que tão bem escrito por um brasileiro de segunda classe, como eu, que vive em Quebec no Canadá. Seu concidadão de segunda categoria aqui agradece.

 

 

“Você não pertence a esta realidade” A morte dos brasileiros no exterior.

Hoje somos cerca de 2,5 milhões de brasileiros no exterior.  Baianos, paulistas, mineiros, gaúchos espalhados pelo mundo inteiro.  E quando você sai do Brasil tem uma galera que resolve decretar o fim da sua nacionalidade. Você está morto.

“Arranca esta medalha verde e amarela do teu peito por que ela não te pertence. Seu fanfarrão”

Você não é mais brasileiro. Basta um comentário seu sobre a política nacional, futebol ou pão de queijo que os que estão em território tupiniquim logo dizem : “Desculpa, mas você não pertence mais a esta realidade. Decidiu abandonar o Brasil”.  Agora imagina a crise pra um camarada que acaba de se mudar para o Alasca. Um desterrado total. Fica sem chão.

– Primeiro por que seja qual for o país que você tenha se mudado sua integração total é quase impossível. Língua, hábitos, trejeitos, etc.

– Suas raízes e referências culturais estão enterradas em algum lugar do insólito gigante da América Latina. Como seu senso de humor, seu mal gosto para música ou seu drama ao assistir a apuração dos votos da última eleição presidencial.

Alguns até tentam disfarçar, mas um brasileiro pode ser reconhecido num único relance de olho a quilômetros de distância. Principalmente o zé carioca. Tenho amigos que reconhecem brazucas aqui pelo olfato. Sotaque então é só respirar.

Tem gente que opta pela imigração por vários motivos. Desde o abandono real de sua história, trauma, trabalho, educação, felicidade até a simples curiosidade. A lista é longa. Mas primeiro vamos aos fatos. Ao sair do Brasil você mantem direitos e deveres de cidadão brasileiro. Entre eles estão o alistamento militar, o voto obrigatório e a declaração de imposto de renda. Falta com algum deles pra ver. Passaporte caçado. Ou seja, ainda posso falar mal do pão de queijo “muchibento” ou da péssima atuação do Guarani no último campeonato paulista por que fui obrigado a justificar voto no último domingo. Colega, você não perde seu passaporte, sua aposentadoria e nem o direito a assistir o brasileirão pela globo.com quando está na gringa.

Vale também derrubar alguns mitos. Quando se envia notícias para casa ( Brasil ) tendemos as notícias valorosas, aquelas de conquistas. Tem gente que tem medo de enviar noitícias de fracassos. Mas elas existem e são muitas. A vida de imigrante é o seguinte.

– Trabalhos ruins muitas vezes fora da sua área de formação. Dificuldades com a língua. Difícil adaptação ao clima, comida e hábitos. Saudades. Falta de identificação com a cultura local. Falta de referência para a procura de bons empregos. Competitividade desleal no mercado de trabalho muitas vezes. Exploração. Falta de crédito no mercado. Documentação. E o mais difícil. Recomeçar uma vida do zero.

Tem gente que acha que imigração é uma maravilha. Tenta a sorte então. Acham que você foi sorteado na Mega Sena pelo teus belos cachos dourados e convidado a morar no Tibet que por sinal passou a ser o melhor lugar do mundo. Vida de imigrante é vida de desafios. Ralação. Uma longa jornada de reconhecimento. Papéis, medos e insegurança. É uma vida de aventura para poucos guerreiros que se metem nesta jornada. Tão difícil quanto o trabalho dos bandeirantes que aportaram há séculos no Brasil.

Mas então uma pergunta. Como determinar seu grau de envolvimento com esta nação distante chamada Brasil. Depende. Tem gente no próprio Brasil que não conhece 10% da linha evolutiva da música popular. Não conhece a história dos movimentos sociais, política, educação e aí vai. Este cara é tão estranho no Brasil quanto um americano falando “valeu mano” na zona leste de São Paulo.

Seu coração não fica limitado a fronteiras.  Então um conselho para brasileiros em ambos os lados.

Se estás no Brasil saiba que quem está fora pode te ajudar e muito. Você pode  aprender com um brasileiro no exterior. Ele pode te passar informações preciosas de projetos interessantes e comportamentos que tem dado certo nos diversos lugares do mundo. Como por exemplo uma coleta de lixo orgânico ou mesmo o comportamento na fila do banco.

Se estás na gringa saibas que nunca poderá abandonar sua origem. Nunca será outra coisa a não ser brasileiro. Você pode falar o inglês, francês ou mandarim perfeito, viver 20 anos no Himalaia e ainda assim será brasileiro. Nada te faz menos ou mais brasileiro que os outros. Quer você queira ou não. Quando comer pão com manteiga e tomar um pingado a tarde o gosto do Brasil vai invadir tua boca e a saudade encherá teu coração.  Se for amargo engula seco teu orgulho.

E se vai embarcar na imigração não entre nessa de abandonar o Brasil. Por mais que deixamos o país por muitos motivos ainda oramos por ele, ainda torcemos por ele, e estamos dispostos a ajudar mesmo distante. Ou você que abre a boca aí pra dizer torça por mim está ignorando meus sentimentos enviados a minha nação ? Então quando pensar que não faço nada por você, pense que só o fato de eu te representar aqui, de vestir o verde amarelo, de falar com sotaque português, de ser educado com os outros e de orar por você meu irmão, já é o suficiente para que você me reconheça como irmão brasileiro. Por que quando ganhamos uma medalha de honra ao mérito em Harvard todo mundo adora colocar no jornal. Brasileiro é premiado em Harvard. E saiba que se eu cometer um crime aqui vai aparecer no jornal. Cidadão canadense, de origem brasileira é preso por x ou y.

Graças a Deus o Brasil está dentro de nós e nossa brasilidade não se resume a samba, futebol e carnaval. E nem mesmo uma fronteira é capaz de encerrar nossa história eterna de amor e ódio …..

“Você não pertence a esta realidade” A morte dos brasileiros no exterior.

 

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