“Eu jurei nunca ficar em silêncio onde quer que seres humanos passem por sofrimento e humilhação. Devemos sempre tomar partido. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o atormentado.”-Elie Wiesel
Hoje é dia do índio no Brasil, dia de tristeza, dia de vergonha na América Ameríndia, dia para se colocar as mãos no rosto e dizer: Deus tem pena de nós que matamos e continuamos a matar nossos índios e nossas índias. Somos um país que luta por muito pouca coisa e quem luta é vilipendiado e acusado de arruaçeiros. Pois são os movimentos de resistência, todos eles, os movimentos que fazem nosso país vivo e ainda possível.
Tá tudo virado no país de Macunaíma. Ao invés de lutarmos por nossos índios concedemos permissão para hidrelétricas como a Monte Santo apunhalarem nossos índios pela frente e por trás. Ao invés de protegermos suas terras, sim terras deles, acabamos mudando o Código Florestal para dar mais terra para o agrobusiness. Ao invés de protegermos nossos índios de quem os rouba, os assalta e os assassina, assistimos passivos, impávidos colossos, a matança deles todos, a grilagem de suas terras, os justiceiros do campos que a mando dos canalhas donos de fazenda os mandam matar, vilipendiar.
Em novembro de 2009, estive no VI Encuentro de Teologia Indigena em Berlin, El Salvador. Lá vi a dor e o sofrimento, a luta e a resiliência de nossos povos Ameríndios. Lá eles cantaram a terra, dançaram, choraram, e se comprometeram a continuar a luta. Porque eles não tem outra alternativa! Eles não podem não lutar, eles não podem não se envolver. Mas também o fazem por um amor mais profundo por Patcha Mama, um compromisso vivo com que nos fez, nos faz respirar, e nos alimenta todos os dias. Compromisso com gerações passadas e gerações futuras. Alí, me converti de novo, uma conversão primal, levado que fui de volta ao útero de Deus. Alí, nos líquidos aminióticos de Deus, nasci no meio do povo que me gerou novamente. A eles eu pertenço, a eles eu devo minha meu mais profundo amor, minha mais profunda lealdade.
Enquanto não lutarmos por nossos índios não poderemos nos chamar Cristãos! Nossa bandeira de luta e fé precisa e deve começar lá no meio dos índios. Nossa casa, se não for a oca primeiro, não deveria ser nunca nossa casa. Nossa fé só poderia ser fé, se assumisse o cuidado, a luta e resguardo de nossos povos primeiros! Não me chamarei cristão enquanto não fizer da minha luta mais primordial a luta pelos índios e índias de nosso país e do mundo. Enquanto não honrar meus índios e índias, não honrarei a Deus. Se minha oração não começar com “Deus tem misericória de meus irmãos e irmãs primeiros, me ajude a lutar com eles” não orarei a ninguém. Enquanto não cuidar dos índios e índias que vivem e lutam no meu país e no mundo, não poderei cuidar de minha mãe, de meus irmãos, de minha família.
Hoje é dia de luto, de tragédia, de mentira, de vergonha, de tristeza! E assim será, até que a gente lute, se envolva, dê tempo, dinheiro e recursos, e nos juntarmos a eles na luta que não é só deles, mas essencialmente nossa, minha e sua.
Todo dia era dia de índio… E pela fé e pela luta, pelo sangue e pelo suor, pela oração e pelo amor, pelo canto e pelo desassossego, um dia ainda voltará a ser.
“América Ameríndia, aínda na Paixão: um dia tua Morte terá Ressurreição!”