“Agora o mundo pode acabar” Corinthians Campeão Libertadores 2012

Textos diversos sobre a vitória do Corinthians na Libertadores.

Para mais notícias veja o site: http://www.lancenet.com.br/hotsites/timao-libertadores/

PAra um vídeo maravilhoso da torcida veja: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2012/07/torcida-do-corinthians-da-show-parte-na-campanha-do-titulo-inedito.html

Organizado, Corinthians pode ganhar qualquer competição

TOSTÃO

Corinthians, merecidamente, é campeão invicto da Taça Libertadores. Não sabia que em Belo Horizonte havia tantos corintianos. Os foguetes não paravam de estourar ao fim do confronto.

Escutei 1 milhão de vezes que o Corinthians é um time de operários, sem craques. O único craque no futebol brasileiro é Neymar. Porém o conjunto do Santos é muito inferior ao apresentado pelo Corinthians.A partida, no primeiro tempo, foi um retrato da pouca qualidade técnica dos dois melhores times sul-americanos. As duas equipes não criaram uma única jogada ofensiva. No segundo tempo, o Corinthians fez um gol após uma bola que sobrou de uma jogada aérea e outro em um presente do zagueiro Schiavi. Aí, o Boca foi para a frente, o Corinthians passou a trocar passes e quase fez outro.

Time de operários só se for em relação a um Real Madrid ou a um Barcelona. Comparado com as melhores equipes brasileiras, o Corinthians está, no mínimo, individualmente, no mesmo nível.

O time tem a melhor dupla de volantes e a melhor dupla de zagueiros do futebol brasileiro, além de Cássio, que pinta como um goleiro para a seleção brasileira. Emerson foi decisivo em vários jogos e é muito melhor do que parece. Nas outras posições, não há nenhum jogador fraco.

O Corinthians não tem só cara de Libertadores, como dizem. Tem cara de time organizado, para ganhar qualquer competição. É a equipe mais disciplinada e compacta e a que melhor marca no Brasil. Méritos para Tite, que já merecia, há muito tempo, estar entre os melhores treinadores brasileiros.

Parabéns, Corinthians!

 

O maior dos campeões

CAMPEÃO INVICTO, o Corinthians se iguala ao Santos de 1963, embora Pelé & cia tenham jogado apenas quatro jogos -uma vitória e um empate com o Botafogo, sem Mané Garrincha, e duas vitórias sobre o Boca Juniors.

Agora, só sete clubes ganharam sem derrota -e desde 1978 que a façanha não era atingida.

O Corinthians, como se sabe, disputou e não perdeu nenhum dos 14 jogos. E deixou pelo caminho o Vasco campeão de 1998, o Santos tri e o Boca hexa. Certamente este time corintiano não é o melhor dos campeões brasileiros na Libertadores, mas se tornou o maior deles.

Porque o Santos de Pelé, o Cruzeiro de 1976, o Flamengo de Zico, o São Paulo de Telê Santana e Raí, o Palmeiras de Felipão e Alex, o São Paulo de Paulo Autuori e Rogério Ceni de 2005 e o Santos de Neymar no ano passado tinham times melhores, assim como o bicampeão Inter era do mesmo nível e por aí afora.

Verdade que o Grêmio, em 1983, também superou três campeões: Flamengo, Estudiantes e Peñarol. Que o Vasco, em 1998, passou por Grêmio, Cruzeiro e River Plate.

Que o Palmeiras, em 1999, derrotou Olimpia, Vasco e River Plate.

E que o Santos, no ano passado, eliminou Colo-Colo, Once Caldas e Peñarol.

Mas o Corinthians venceu campeões maiores, que somam dez títulos -e invicto o dobro de jogos dos maiores invictos.

Sim, o próprio Corinthians, com times superiores, não conseguiu ganhar no começo do século, o que apenas aumenta a façanha deste time que Tite conduziu com serenidade.

Oswaldo Brandão e Basílio, em 1977; Nelsinho Baptista e Neto, em 1990; Osvaldo de Oliveira e um timaço em 2000 têm agora companhia ilustre e cada um escolherá o seu herói.

Ralf que fez o gol do empate no último minuto na estreia e evitou uma crise.

Paulinho que fez no Vasco e roubou de Riquelme. Emerson e Danilo que despacharam o Santos.

Romarinho!

Cássio, Chicão e Leandro Cástan, todos que permitiram ao Corinthians sofrer tão poucos gols.

E a Fiel, é claro, que mais uma vez transbordou num Pacaembu que está se despedindo da vida do Timão, mas que entrou em sua história no IV Centenário de São Paulo, em 1954, sob a batuta de Cláudio, Luizinho e Baltazar para sair em grande estilo quase 60 anos depois.

Ontem fez sete meses da morte do Doutor Sócrates.

E ele apareceu no calcanhar de Danilo que valeu o passe do primeiro gol.

Da América

Em um Pacaembu eufórico, Corinthians encerra azares e conquista a Taça Libertadores, o grande troféu que lhe faltava

 

Corinthians 2
Emerson, aos 9min e aos 27min do 2º tempo
Boca Juniors 0

 

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO
Quarta-feira, 4 de julho de 2012, às 23h53, milhões de azares e feitiços se acabaram mais uma vez, como em uma certa noite paulistana de 1977.

O Corinthians, desde ontem e para sempre, é campeão da Libertadores.

E a cidade, ou sua parcela corintiana, levantou-se e correu às ruas para extravasar a conquista do título mais sofrido e aguardado de sua história, vencido de maneira inquestionável e invicta, botando na roda o clube mais temido de toda a América.

A equipe de Tite derrotou o Boca Juniors no Pacaembu lotado de corintianos e tomado por felicidade compulsiva e êxtase. Os 2 a 0, somados ao empate em Buenos Aires, deram a taça inédita ao clube.

O mau-olhado que atormentava o sonho continental foi enterrado por Emerson, o mais decisivo jogador de um time em que não há um, mas vários capitães e líderes.

Vieram do rápido atacante os dois gols que fizeram o corintiano feliz feito um Basílio, que salvou o clube do jejum de décadas há 35 anos -o mesmo 1977 em que começou a caminhada da equipe na competição continental.

Dois gols que traduzem o estilo de futebol de Tite: marcação e apetite pela bola.

No primeiro, Danilo disputou, e ela sobrou para Emerson, que encheu o pé, sem chance para qualquer azar, já aos 9min do segundo tempo.

No estádio, 40.186 pessoas viram a história começar a acontecer. O Corinthians estava a 34 minutos do céu.

Aos 27min, Emerson obedeceu a Tite, apertou a marcação, roubou a bola, tocou rasteiro e fez o segundo. A angústia estava perto do fim.

Às 23h53, o Corinthians ouviu o último apito daqueles tempos em que ainda não conhecia o doce sabor da América. E, desde aquela hora, a cidade não dormiu mais.

Nenhuma palavra pode explicar o que se viu nas arquibancadas. Alívio e euforia, gritos, choros e orações, abraços e histeria coletiva.

Tite ouviu o estádio todo entoar seu nome em agradecimento por ter acabado com anos de deboches dos rivais.

Coube a Alessandro a faixa de líder na final. Já se passavam 18 minutos de hoje quando o lateral ergueu o troféu que representa os libertadores da América, premiação por uma campanha impecável, com oito vitórias, seis empates e quatro gols sofridos.

Todos os jogadores, Sócrates e até Ayrton Senna foram lembrados pela torcida, que celebrou seu esquadrão em que não há estrelas e salários exorbitantes, comandado por um treinador obstinado.

Pela primeira vez desde 1978, alguém leva a taça invicto. Pela primeira vez desde o Santos de Pelé, um time brasileiro alcança o feito.

O Boca, hexacampeão, foi o último oponente de uma escala de 86 partidas em dez participações. Riquelme, a última esperança de quem torcia pelo Boca, pouco fez.

Sem Pelé em campo, pela primeira vez o Boca perde uma decisão para o Brasil.

Bandeiras do Japão surgiram por todos os lados, enquanto os campeões davam a volta olímpica com a taça mais querida pelos brasileiros. Em dezembro, o Corinthians disputará o Mundial de Clubes. Tentará o bicampeonato, já que ganhou em 2000, no Rio de Janeiro.

Mas disseram que, para conquistar o mundo, é preciso atravessá-lo. Pois bem, o Corinthians vai à Ásia representar a América como um honorável representante.

“O fim de todos os azares”, estampou a Folha no título estadual de 1977, contando como Basílio enterrou os milhões de azares e feitiços do jejum de duas décadas.

Na mesma página, o lendário Vicente Matheus prometia um estádio próprio. A obra termina ano que vem. Talvez, o fim do último azar.

Independência das Américas chega sob a lua de São Jorge

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

Sob a lua de São Jorge, ontem, 4 de julho, o dia da independência corintiana na América, fez sete meses da morte do Doutor Sócrates.

E, como no dia em que ele morreu, a Fiel chegou ao paraíso ao ver o time ganhar a única grande taça que faltava em sua sala de troféus.

Para tanto, foi preciso desbancar o Boca Juniors, papão da Libertadores nos anos 2000 -quatro títulos.

O que só foi possível porque Romarinho, o número 21 no 21º aniversário da eliminação corintiana pelo mesmo Boca, calou a Bombonera.

Aquela eliminação marcou o início da obsessão corintiana por uma taça que os três maiores rivais conquistaram nos anos 60 e nos 90.

Simbolismos à parte, a apoteose aconteceu num cenário digno de Spielberg, um Pacaembu feérico e superlotado. Havia uma força estranha no ar, como a de 13 de outubro de 1977, que não era de maio, mas libertou o Timão de uma maldição.

Nada que ventasse contra seria capaz de dissipar aquela energia, porque estava escrito que seria a noite da vitória. A taça está no Parque São Jorge, o dono da lua. O debutante em finais de Libertadores derrotou o velho frequentador. Ao seu modo.

Jogou o primeiro tempo melhor que o Boca, em 45 minutos tensos, mas pouco emocionantes. Ao contrário do segundo, que logo aos 9min viu Danilo dar de letra para o Sheik das Américas fazer 1 a 0 e transformar o estádio num sanatório geral.

Enlouquecido ainda mais depois que Emerson marcou de novo para encerrar uma etapa e começar outra na vida corintiana, em busca do bicampeonato mundial, agora, contra o Chelsea.

Time não se intimida e domina argentinos

MARTÍN FERNANDEZ
DE SÃO PAULO

O Corinthians cravou seu nome na base de madeira da Taça Libertadores com mais uma exibição extraordinária de um time histórico.

Tratou o hexacampeão continental Boca Juniors como um qualquer. Fez o Pacaembu chamá-lo de “timinho”, e com total razão.

A equipe armada por Tite mostrou na decisão da Libertadores suas melhores qualidades e soube como esconder seus (poucos) defeitos.

Com exceção talvez da metade do primeiro tempo, controlou o jogo, não se importou com o antijogo do Boca, nunca saiu dos trilhos.

Assim como não se intimidou ao jogar na Bombonera na semana passada, não sentiu o peso de decidir a Libertadores pela primeira vez.

Riquelme sempre tentou, mas a inteligência do Corinthians o fez sentir o tamanho de sua solidão. Seria mais feliz se vestisse branco ontem.

O Corinthians demorou a entrar no jogo. Passou o primeiro tempo inteiro sem uma chance de gol -tampouco cedeu oportunidades ao rival.

O Boca se comportava como se tivesse vencido o primeiro jogo em casa.

Demorava meses para cobrar qualquer falta. O goleiro Orión se machucou e levou uns três anos para ser substituído por Sosa, que, por sua vez, não comprometeu.

O Corinthians tentava manter a frieza no gramado. Nas arquibancadas, a torcida fazia de tudo para não deixar.

No segundo tempo, os dois times foram obrigados a jogar. E o Corinthians foi melhor, bem melhor.

Danilo brigou por um rebote na área e conseguiu dar para Emerson fuzilar Sosa e abrir o placar aos 9min.

Menos de 20 minutos depois, o mesmo Emerson aproveitou uma roubada de bola para concluir com frieza impensável à situação: 2 a 0.

Em meio ao barulho, dava para ouvir o silêncio que emanava dos quase 2.500 argentinos, que pararam de fazer seu gesto característico com as mãos na arquibancada.

Agora, o time vai buscar o bi mundial no Japão. Antes disso, terá pela frente o Brasileiro, onde hoje está na zona de rebaixamento. No domingo, o jogo é no Recife.

 

Emerson dá título ao Corinthians

LIBERTADORES
Polêmico atacante faz 2 gols, provoca adversários e encerra desconfianças

LEONARDO LOURENÇO
DE SÃO PAULO

Faltavam ainda alguns minutos para o início do jogo no Pacaembu quando uma família com sete ou oito pessoas passou em frente ao espaço reservado à imprensa.

Todos com trajes corintianos, todos com o nome de Emerson Sheik às costas -era de se imaginar algum parentesco com o camisa 11.

O que vinha à frente, puxando a fila de mãos dadas a crianças, tinha, no espaço do uniforme reservado ao patrocinador principal, uma mensagem: “O predestinado”. Não poderia estar mais certo.

Emerson foi o Basílio da vez. Assim como o camisa 8, santificado pela torcida pelo gol no Paulista de 1977, o atacante tirou da garganta corintiana o espinho que há anos sufocava toda uma geração.

Foram dois gols, ambos no segundo tempo, o primeiro em um bate-rebate digno daquele Corinthians x Ponte Preta de 35 anos atrás.

Mas Emerson fez mais. Encarnou o espírito que rege o Corinthians. Partiu para cima dos zagueiros do Boca, dividiu bolas e provocou. Provocou muito os argentinos, que, na maior parte do jogo, o viam pelo retrovisor.

Com a vitória nos braços, mandou beijinhos aos rivais, apontou a própria bochecha para ser beijada e chegou a morder um dedo adversário.

Entretanto, o poder decisivo do 11 corintiano apareceu antes da decisão de ontem.

Foi de Emerson o gol da vitória sobre o Santos, na Vila, pelas semifinais. Na Bombonera, Romarinho se consagrou após um passe dele.

“Gosto dessas partidas. Tenho certeza de que a galera que acompanhou a minha história sabe o quanto é importante”, disse o atacante.

“Um ano atrás me deixaram de fora por uma coisa que eu não fiz. Vocês foram injustos comigo, e hoje sou campeão da Libertadores”, completou ele, em mensagem direta ao Fluminense. Ele saiu do clube carioca praticamente escorraçado depois de, supostamente, ter cantado uma música do Flamengo dentro do ônibus tricolor.

Justamente esse tipo de confusão, passagens rápidas e saídas conturbadas de outros clubes fizeram o torcedor desconfiar do atacante em sua chegada, em 2011.

Teve boa participação na campanha do título brasileiro, revezando-se entre o gramado e o banco. Virou titular com a má fase de Liedson.

Ontem, enforcou de vez as dúvidas que ainda restavam com suas duas únicas finalizações em toda a partida.

No fim, saiu para dar lugar a Liedson. Ouviu seu nome ser gritado pela torcida, que agora o terá como herói.

Mas ele não se considera assim. “Sozinho jamais teria feito isso. Tive o passe do Paulinho contra o Santos e hoje [ontem], no primeiro gol, tive o desvio do Danilo e, no segundo, a pressão do Alex.”

Já a torcida celebrará os dois tentos desse 4 de julho como faz há 35 anos com o gol daquele 13 de outubro.

Se 2012 é o novo 1977, Emerson poderia ser o novo Basílio. Mas não, ele será Emerson. Eternamente em corações corintianos.

OPERÁRIOS DE ITAQUERA PARAM PARA VER O JOGO

Os trabalhadores tiveram o horário de jantar ontem antecipado da meia-noite para às 22h. O telão foi instalado no local onde será o gramado do estádio, e os operários viram a partida da arquibancada recém-construída. A tensão tomou conta o canteiro durante boa parte do jogo, até Emerson marcar o segundo gol do time no Pacaembu. A partir daí o clima da obra ficou festivo. Mas a pausa dos operários durou pouco. Logo tiveram de deixar a arquibancada. Mesmo histórico, o dia era de trabalho.

Povo

Com ingressos esgotados, 28 mil corintianos pagam até R$ 60 para assistir à decisão em telões no Anhembi e comemorar o título com trio elétrico e bandas

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO
A duas horas da final do campeonato, um torcedor desfilava com a faixa de campeão da Libertadores-2012 no Anhembi. Dizia ter certeza do título. Estava isolado. A maioria estava ansiosa para ver o que ocorreria na partida.

Essa imprevisibilidade era o que diferenciava o evento, organizado pelo Corinthians para a torcida assistir ao duelo, de um show de música de grande porte.

Havia camarotes, pista VIP e o espaço do povão, balões promocionais, faixas padronizadas e seguranças com a camisa “Support” (apoio).

Havia um trio elétrico desses de ensurdecer quem passa ao seu lado, bandas de sertanejo, pop, axé e rock, cerveja e fogos.

Havia rodas de torcedores que simulavam se bater como em shows de rock, uma ânsia do público para ser enquadrado pelas câmeras de TV ali presentes e garotas com acesso a espaços nobres.

Mas faltavam os astros do show, que estavam no Pacaembu para disputar o duelo a ser visto em três telões com imagem em alta definição. A promessa era que, com o título, os atletas iriam festejar ali -não haviam chegado até a conclusão desta edição.

E cerca de 30 mil torcedores foram ao Anhembi. Foram vendidos 28 mil ingressos até pouco antes do jogo, a preços entre R$ 20,00 e R$ 60,00.

Torcida que protagonizava cenas inusitadas, como cantar e agitar as mãos acima da cabeça virada para um telão fora do ar, como aparelhos de TV que perdem o sinal.

Mas, se o telão funcionou no jogo, a torcida se calou. Foi no início da partida que o público do Anhembi passou a agir diferente da torcida no Pacaembu. Abraçados, em posição de reza ou só com os corpos tensos, eretos, concentravam olhos nos telões.

Ironia, antes do jogo, a maioria dizia à reportagem estar ali para torcer junto, sentir o clima do estádio. Mas, iniciado o jogo, era a alta resolução das imagens que mais atraía o público.

Manifestações no primeiro tempo só em lances raros de ataque corintiano. De resto, pulos, gritos, mãos abanando para reclamar de erros e aplausos às divididas.

“O pessoal está muito tenso”, definiu uma menina de minissaia, mais relaxada.

Mas a maioria preferia a tensão, tanto que até o consumo de cerveja era moderado. Os vendedores no meio da torcida -e com preços de R$ 5,00 por copo- ficaram ociosos a maior parte do tempo durante a partida. Comprava-se mais no intervalo.

Mas foram esses copos que voaram pelo ar quando Emerson fez o gol corintiano. O líquido transformou a festa em um Carnaval na chuva.

E a bateria acordou com o canto da torcida. Corpos e gargantas relaxaram.

Quando saiu o segundo gol, já houve quem começasse a chorar sozinho, com as mãos no rosto. Uns ajoelhavam, outros corriam, movimentos incontrolados, como uma dança sem coreógrafo.

Ou um cinema em que Emerson fez o papel de Charles Chaplin. O telão mostrava em detalhes cada gesto provocador dele aos argentinos, acompanhado de muitas risadas dos corintianos.

O evento do Anhembi, imprevisível antes do jogo, encontrou o final feliz nos cantos, abraços e fogos. Agora, a maioria já tinha suas faixas de campeão no peito.

Treina muito

Como Tite resistiu a apelos por sua demissão após fracasso, mudou estilo pessoal, conquistou jogadores, torcida, dirigentes e, finalmente, a Libertadores para entrar na história do Corinthians

BERNARDO ITRI
DO PAINEL FC

Por um triz. Foi por muito pouco que ele não deixou o Parque São Jorge. Era fim de 2011, e ele ainda vivia a ressaca do título Brasileiro.

Em férias nos EUA, Tite ficou irritado com as notícias sobre a pedida de seu agente, Gilmar Veloz, para renovar o contrato com o clube.

À época, Andres Sanchez, então presidente, falou publicamente que Veloz pedia R$ 700 mil mensais. O cartola considerava um absurdo dar um aumento de cerca de R$ 250 mil ao técnico.

Tite só soube do problema quando seu nome começava a ser chamuscado publicamente. Àquela altura, o técnico campeão brasileiro se tornava o técnico mercenário. Um pesadelo para Tite.

Pensou se valeria a pena continuar com essa fama. Mas respirou e ligou para Andres. “Paga o quanto você achar que tem que pagar e fala com o Gilmar. Está tudo certo”, disse. Foi a senha para o contrato ser fechado, abaixo de R$ 600 mil.

Assim, evitou se despedir do Corinthians como fizera em 2005, quando saiu brigado com Kia Joorabichian.

Mais: impediu que uma história que culminaria no inédito título corintiano na Libertadores fosse abortada.

O INÍCIO

Favorito ao Brasileiro-2010, o Corinthians via o título escapar lentamente. O técnico Adilson Batista foi demitido.

O nome de Tite, que treinava o Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, foi o primeiro levantado. Ele já havia sido sondado por diretores quando Mano Menezes saíra.

Longe da família, Tite estava insatisfeito. A mulher Rose e os filhos o visitavam esporadicamente. Foi o suficiente para ele aceitar a proposta espinhosa de assumir a equipe naquele momento.

A missão era levar o time ao menos à Libertadores, sendo que só restavam oito jogos.

Tite conseguiu seis vitórias e dois empates. Não ganhou o título, mas garantiu a vaga na Libertadores. Ano novo, jogadores mais acostumados com seu trabalho, ambiente mais leve. Por pouco tempo.

A eliminação na Libertadores ante o Tolima poderia ser o estopim para sua demissão. Tite não tinha a simpatia do público. Era burocrático em entrevistas, respondia com termos técnicos não digeridos por torcedores e cartolas.

Normalmente, a soma de um fracasso enorme com a pouca aceitação do público significaria demissão.

“Imagina a joia rara que teríamos perdido se tivéssemos demitido o Tite àquela época”, lembra Mário Gobbi, diretor de futebol em 2011 e atual presidente corintiano.

O técnico foi mantido. O próximo jogo seria contra o Palmeiras. Uma derrota seria a gota d’água para a queda. Mas a vitória de 1 a 0 amenizou a crise instalada no time.

Daí em diante, a aproximação do treinador com a torcida só cresceu. Luciano Signorini, seu assessor de imprensa, ligou para Tite, que iniciou um tipo de treinamento para lidar com a mídia.

A figura séria e truncada de Tite começava a se desfazer. Ao mesmo tempo, surgia um homem brincalhão e folclórico, conhecido por amigos, familiares e até mesmo atletas.

Encarnou a “Titebilidade”.

Em entrevistas, começou a aceitar brincadeiras que faziam por ele usar termos como “treinabilidade”.

E, com atitudes tomadas perante o elenco corintiano, deu corpo a essa imagem.

No Brasileiro-2011, Tite sacou do time seu líder e capitão. Ao perceber que Chicão não estava bem, substituiu-o pelo reserva Paulo André.

Cartolas garantiam que Tite perdia naquele momento o controle da equipe. Isso de fato aconteceria se o treinador não costurasse a troca.

Antes de tirar Chicão, Tite o chamou para uma conversa e explicou o motivo da troca. Na língua dos boleiros, costuma-se dizer que essa atitude o fez ganhar o zagueiro -e não perder o elenco. Chicão ainda voltou a ser titular no fim do Brasileiro e levantou a taça do campeonato.

Mais tarde, Tite teria que fazer o mesmo em três posições. Com Liedson, Júlio César e outro capitão: Alessandro. A costura foi a mesma, e o resultado, igual. “Ser justo é difícil”, dizia ao ir à final.

Willian e Élton, atacantes costumeiramente acionados pelo técnico, foram à Argentina, mas ficaram de fora do jogo contra o Boca. Romarinho, de 21 anos, começou no banco. Deu no que deu.

Tite mostrou que seu time não tem estrelas, não tem capitão fixo. Mas foi o homem que colocou todos esses nomes, inclusive o dele, na história do Corinthians como os primeiros vencedores da Libertadores da América.

Carona. Torcedores que tentavam entrar pela parte de trás do Pacaembu e foram contidos pela polícia ofereceram R$ 200 a um enfermeiro para subir em uma ambulância que estava chegando ao estádio. Sem sucesso.


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