Texto escrito em 2006.
A cultura é palco onde teologia e política se relacionam. É na pólis que as formas teológicas e políticas criam fundamentos e dão contornos à cultura. Falar da relação entre teologia e política é também falar da cultura e de como criamos, inventamos e transformamos os elementos que estruturam os espaços culturais. Nenhuma cultura vive, acontece ou se relaciona sem inferências políticas e teológicas.
A história da política é também uma história teológica. Os mais variados arranjos e decisões políticas sempre foram definidos, de uma forma ou de outra, mais ou menos, por decisões teológicas. A história brasileira não é diferente. Desde as cartas de Pero Vaz de Caminha e sua Carta do Achamento até os recentes conchavos de setores religiosos brasileiros, sejam eles católicos ou evangélicos, toda racionalidade empenhada em decisões políticas é sempre feita a partir das mais diversas posturas teológicas. O importe teológico serve como aliado indiscutível que alicerça interesses pessoais excusos em estruturações “consistentes” que masi dependem de Deus do que do proponente. É um mecanismo ideológico usar a teologia como instrumentação política.
Nos Estados Unidos, por exemplo, nos tempos do McCartismo, discursos cristãos foram criados para demonizar o comunismo. Em nome de Deus, homens e mulheres foram colocados na prisão, perseguidos e mortos para que se protegesse a ordem da sociedade. Como somos todos interligados, os resultados aqui no Brasil também foram evidentes. Fomos ensinados que comunistas comiam criancinhas e eram os terroristas da época. Em nome de Cristo, deveriam ser, os comunistas e o comunismo deles, evitados e combatidos a todo custo.
De outro lado, em alguns momentos da história, a teologia, exercendo sua função de crítica profética, se posicionou claramente contra estados políticos totalitarios. Durante as duas Guerra Mundiais, documentos teológicos como o de Barmen ou a vivência da igreja subterrânea na Alemanha foram exemplos de repúdio à guerra e resitência ao Nazismo de Hitler. O teólogo Karl Barth esteve envolvido na declaração de Barmen e o teólogo Dietrich Bonhoeffer, um dos teólogos mais impactantes do século passado e que alimentou a igreja subterrrânea durante a época de resistência, foi o idealizador de um dos atos mais contundentes da história do Cristianismo no século XX: Bonhoeffer elaborou um plano para matar Hitler mas foi denunciado por alguém de dentro de seu grupo, acabou preso e morreu na prisão. É desse tempo de prisão que ele escreveu um dos mais belos textos que a teologia jamais escreveu: Cartas da Prisão. Leiam!
A história Brasileira também está marcada por teólogos, padres, líderes religiosos, homens e mulheres que impactaram a vida política do Brasil de maneira positiva. Não estou dizendo de deputados de igrejas, ou de Antony Garotinho o qual nada se assemelha com verdadeiros cristãos que nunca usaram o cristianismo para promoção pessoal ou conseguir serem eleitos mas sim, de homens e mulheres que participaram profunda e ativamente de processos politicos de transformação da vida brasileira. Temos muitíssimos exemplos: desde os movimentos de resistência negra nos diversos quilombos espalhados pelo país, os sacerdotes que morreram nas revoluções de 1817 e 1824 no período de cristandade colonial, os inconfidentes e os que lutaram contra a ditadura militar, só para citar alguns. Brasileiros e brasileiras como Zeferina, líder quilombola de resistência em Salvador; Frei Caneca, veemente combatente da teologia tradicional que mantinha o status sagrado do poder monárquico; Aleijadinho que usou sua arte como resistência à política Portuguesa, fez de sua obra uma interpretação cristã que denunciava e combatia a noção teológica de dominação imperial. Em Congonhas do Campo, Aleijadinho esculpiu profetas bíblicos com o rosto de inconfidentes mineiros. As capelas que criou simbolizando as estações da cruz estão cheias de referências ao estado político da época. Os guardas que prenderam Jesus e o castigaram, por exemplo, estavam vestidos com as cores da bandeira de Portugal. Resistência artística e teológica!
Carregamos uma história rica em termos de resistência teológica a governos totalitários e desmandos políticos assentados em bases teológico-religiosas. Como cristãos e teólogos, somos herdeiros dessa Cristianismo que se revolta contra as estruturas injustas de poder e temos que continuar atentos ao que acontece em nosso país. É nesse embate que as formas e conteúdos da cultura vão se formando e as identidades de um povo plural se movendo. É preciso saber que as estruturas da nossa cultura tem muitíssimo a ver com os jeitos com que a gente acredita no evangelho e o vive diariamente, e também com as opções políticas que fazemos ou deixamos de fazer. É muito grande nossa responsabilidade.
Teologia, Política e Cultura – Um Relação Tensa
A cultura é palco onde teologia e política se relacionam. É na pólis que as formas teológicas e políticas criam fundamentos e dão contornos à cultura. Falar da relação entre teologia e política é também falar da cultura e de como criamos, inventamos e transformamos os elementos que estruturam os espaços culturais. Nenhuma cultura vive, acontece ou se relaciona sem inferências políticas e teológicas.
A história da política é também uma história teológica. Os mais variados arranjos e decisões políticas sempre foram definidos, de uma forma ou de outra, mais ou menos, por decisões teológicas. A história brasileira não é diferente. Desde as cartas de Pero Vaz de Caminha e sua Carta do Achamento até os recentes conchavos de setores religiosos brasileiros, sejam eles católicos ou evangélicos, toda racionalidade empenhada em decisões políticas é sempre feita a partir das mais diversas posturas teológicas. O importe teológico serve como aliado indiscutível que alicerça interesses pessoais excusos em estruturações “consistentes” que masi dependem de Deus do que do proponente. É um mecanismo ideológico usar a teologia como instrumentação política.
Nos Estados Unidos, por exemplo, nos tempos do McCartismo, discursos cristãos foram criados para demonizar o comunismo. Em nome de Deus, homens e mulheres foram colocados na prisão, perseguidos e mortos para que se protegesse a ordem da sociedade. Como somos todos interligados, os resultados aqui no Brasil também foram evidentes. Fomos ensinados que comunistas comiam criancinhas e eram os terroristas da época. Em nome de Cristo, deveriam ser, os comunistas e o comunismo deles, evitados e combatidos a todo custo.
De outro lado, em alguns momentos da história, a teologia, exercendo sua função de crítica profética, se posicionou claramente contra estados políticos totalitarios. Durante as duas Guerra Mundiais, documentos teológicos como o de Barmen ou a vivência da igreja subterrânea na Alemanha foram exemplos de repúdio à guerra e resitência ao Nazismo de Hitler. O teólogo Karl Barth esteve envolvido na declaração de Barmen e o teólogo Dietrich Bonhoeffer, um dos teólogos mais impactantes do século passado e que alimentou a igreja subterrrânea durante a época de resistência, foi o idealizador de um dos atos mais contundentes da história do Cristianismo no século XX: Bonhoeffer elaborou um plano para matar Hitler mas foi denunciado por alguém de dentro de seu grupo, acabou preso e morreu na prisão. É desse tempo de prisão que ele escreveu um dos mais belos textos que a teologia jamais escreveu: Cartas da Prisão. Leiam! Mais recentemente, Martin Luther King Jr. escreveu a Carta de Birmingham. http://ordemlivre.org/posts/carta-de-uma-prisao-em-birmingham Essas cartas são bem diferentes daquela escrita por Edir Macedo…
A história Brasileira também está marcada por teólogos, padres, líderes religiosos, homens e mulheres que impactaram a vida política do Brasil de maneira positiva. Não estou dizendo de deputados de igrejas, ou de Antony Garotinho o qual nada se assemelha com verdadeiros cristãos que nunca usaram o cristianismo para promoção pessoal ou conseguir serem eleitos mas sim, de homens e mulheres que participaram profunda e ativamente de processos politicos de transformação da vida brasileira. Temos muitíssimos exemplos: desde os movimentos de resistência negra nos diversos quilombos espalhados pelo país, os sacerdotes que morreram nas revoluções de 1817 e 1824 no período de cristandade colonial, os inconfidentes e os que lutaram contra a ditadura militar, só para citar alguns. Brasileiros e brasileiras como Zeferina, líder quilombola de resistência em Salvador; Frei Caneca, veemente combatente da teologia tradicional que mantinha o status sagrado do poder monárquico; Aleijadinho que usou sua arte como resistência à política Portuguesa, fez de sua obra uma interpretação cristã que denunciava e combatia a noção teológica de dominação imperial. Em Congonhas do Campo, Aleijadinho esculpiu profetas bíblicos com o rosto de inconfidentes mineiros. As capelas que criou simbolizando as estações da cruz estão cheias de referências ao estado político da época. Os guardas que prenderam Jesus e o castigaram, por exemplo, estavam vestidos com as cores da bandeira de Portugal. Resistência artística e teológica!
Carregamos uma história rica em termos de resistência teológica a governos totalitários e desmandos políticos assentados em bases teológico-religiosas. Como cristãos e teólogos, somos herdeiros dessa Cristianismo que se revolta contra as estruturas injustas de poder e temos que continuar atentos ao que acontece em nosso país. É nesse embate que as formas e conteúdos da cultura vão se formando e as identidades de um povo plural se movendo. É preciso saber que as estruturas da nossa cultura tem muitíssimo a ver com os jeitos com que a gente acredita no evangelho e o vive diariamente, e também com as opções políticas que fazemos ou deixamos de fazer. É muito grande nossa responsabilidade.