A história da teologia Protestante no Brasil foi marcada pela importação tanto da forma de pensar como dos conteúdos a serem pensados teologicamente. Até hoje, a maior parte da teologia aprendida nos seminários brasileiros é traduzida. Poucos são os casos de obras de pensadores e pensadoras brasileiras que são lidos em nossas escolas de profetas. Não quero passar nenhum sentimento xenofóbico (aversão às coisas estrangeiras) ao leitor, tanto porque estou me formando num centro de estudos fora do brasil, mas sim nos fazer pensar o quanto somos dependentes do que é produzido fora do país e acabam nos formando com conceitos estranhos e desconexos com a a relidade brasileira que vivemos.
Um aspecto fundamental nessa teologia importada, e também parte da nossa produção teológica, é a ausência da política. Os livros clássicos de teologia sistemática nunca comentaram a necessidade de se olhar para a relidade onde quem fazia e consumia teologia estava inserido. Esse tipo de teologia era uma espécie de teologia alta, ou sea, feita de pensamentos filosóficos que não precisavam das especificidades da realidade para serem construídos. Assim, a Cristologia por exemplo não precisava de nenhum dado histórico e concreto do leitor para ser escrita. Era como se as verdades eternas de Deus estivessem acima e além de linites sociais, contornos culturais, realidades econômicas e escolhas políticas. Confundiu-se as verdades eternas de Deus com as vontades privadas de pensadores e líderes religiosos. O versículo bíblico que fala que Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente não pode ser usado para posições doutrinárias, escolhas domáticas ou posturas bíblicas. Mesmo o que hoje chamamos de partes inegociáveis da fé cristã sempre foram alvo de disputa e discussão.
Se entendermos que toda teologia tem um impacto cultural e toda cultura tem um impacto na teologia, temos que pensar no o que e conjunção com o como acreditamos. Toda inferência teológica é marcada pelos contornos e determinações culturais ao mesmo tempo que a teologia tem a força de um agente cultural a marcar, ampliar ou reduzir as fornteiras da cultura.
Precisamos rever nossa teologia e ver que a agenda teológica, as formas de se adorar a Deus, os valores “universais” buscados nos evangelhos e mesmo as aspirações que os evangelhos nos trazem, tem muito mais de norte-americano do que de universal e menos ainda de brasileiro.
Se quisermos fazer uma teologia brasileira, como é o nome desse site, precisamos romper com esse modelo europeu e norte-americano de fazer teologia que não leva em conta os dramas locais da vida humana, as experiências únicas de comunidades, suas lutas e sonhos e atentar criticamente para aquilo que nossa cultura nos direciona, incita, e oferece. Precisamos de uma teologia cultural que atente para a nervura social brasileira, com suas especifidades, suas contingências e seu rosto índio, negro e europeu que vai se tornando um rosto tomado pela globalização em suas escolhas e delimitações.
Precisamo de uma teologia de baixo, que comece pela realidade vivida por todos nós e principalmente por aqueles que foram historicamente esquecidos e calados nos grandes discursos de poder.
O que faz de nós brasileiros? O que nos caracteriza? Como oferecer uma voz profetica que restaura o que nós evangélicos sempre demonizamos e que ajuda a instaurar na tecitura da vida sa sociedade brasileira? Qual é nossa história e como acessar essa história? Cresci dentro da ditadura militar e a história do país a que fui submetido era a perspectiva daqueles que venceram, dos Portuguese que fizeram a glória de nosso país. Nunca ouvi falar de mulheres que lutaram pela nossa estória naciona, nunca ouvi falar de um negro, nem negra que foram fundamentais para sermos o que somos hoje. Deles só ouvi que eram escravos, que nunca ofereceram resistência e que não sabima fazer mais do que trabalhar como escravos. Dos índios só ouvi falar que eram vagabundos e não gostavam de trabalhar.
Como construir uma teologia brasileira com um passado desse tipo inculcado em nossas mentes, em nossas veias, em nossos corações? Como é que poderemos construir uma teologia brasileira que de fato fale do que é brasileiro? O que nos constitui? Qual é nossa cor? Onde estão os lugares, os marcos espaciais que falam de nossa identidade mutante? Como os nossos temperos podem afetar nosso jeito de amar a Deus e seguir Jesus Cristo? Como nossas danças nos falam de nos? Como nossos corpos e nossas sexualidades são tão importantes para dizer do jeito que performatizamos nosso jeito de ser. Quem são os brasileiros que nos dizem quem somos? Como falamos de nós para o mundo? Como o mundo nos vê? Esse olhar de fora tem realmente alguma aparÊncia de nós mesmo? Quais são os nossos jeitos? E como fazer deles um jeito também de fazer teologia, isto é falar e viver Deus em nossa cultura?
Não acho que precisamos buscar definições unívocas sobre quem somos. Somos e sempre seremos o que sempre estaremos fazendo de nós mesmos. E então, como fazermos uma teologia brasileira?
Escrito em 2006.