Por ter me alargado por demais nos pontos anteriores, especialmente na questão do negro e negra brasileiros, vou ser breve, breve por demais, triste e frustradoramente breve na menção aos índios brasileiros, povo pelo qual tenho uma relação intensa apesar de toda minha ignorância. Nossos antepassados, primeiros moradores de nossa terra, estão em processo intenso de destruição desde 1500 pelos colonizadores Europeus e depois nós, colonizadores brasileiros. Um dos maiores genocídios da história humana aconteceu no continente americano, de 1519 a 1600. Em 1529, quando Hernan Cortez invadiu o México, haviam 22 milhões de Aztecas. No ano de 1600, eles eram apenas 1 milhão.[1] Tempos atrás, em visita do Papa ao Peru, um grupo de índios foi recebido pelo Papa. O presente dos índios era uma Bíblia e com ela o pedido para que ele levasse embora o instrumento de opressão e de morte do povo indígena. Como protestantes, freqüentemente vemos os índios somente como povos não alcançados e que precisam do Evangelho de Jesus. Povos primitivos que precisam de salvação-civilização de Jesus/Ocidente.
Somos todos nós acometidos de um esquecimento absoluto acerca de nossos ancestrais, irmãos e irmãs que foram abandonados e consistentemente esquecidos pelo governo e por nós. Eles não fazem parte de nossas histórias, de nossos mitos, de nossos festejos, de nossas datas cívicas, de nossos feriados, de nossos livros escolares, de nossas conversas, de nossa revolta social, de nosso programa de fé, dos partidos políticos e de lugar nenhum. Já se não bastasse o aniquilamento sistemático desse povo em nossa história, hoje em dia eles, que não são eles mas são nós, estão sendo sistematicamente destruídos pelo esquecimento, pelo abandono, pelo descaso. Aniquilados sem piedade, sem proteção, como se fossem estranhos em terras brazilis. O que sobra a esse povo que diz ser amado pelo nosso país é a bebedeira e os crescentes índices de morte por suicídio. Por que viver num país que continua a destruí-los, que continua a abandoná-los e que agora os queima em praça pública porque viraram mendigos nas grandes cidades? Bugres, índios vagabundos… Quanta vergonha para todos nós povo brasileiro, quanto vergonha para nós, povo cristão. Será que os enxergamos? O que faremos para nos converter dessa fé ocidental, civilizadora e exclusiva que abandona e rejeita o que não é espelho?
É preciso desesperadamente nos converter, é preciso mudar de caminho, é preciso lembrar e lutar pela vida, vida ampliada, a vida que não somente contempla mas é desafiada, mudada e transvestida pela presença de nossos irmãos e irmãs indígenas. Somente assim faremos justiça ao Evangelho e a vida abundante, a vida bela, a vida rara que Cristo nos ofereceu.
[1] Leonardo Boff. América Latina: Da conquista a nova evangelização. (São Paulo: Ed., Ática, 1992), 10.